“Exercitar a si mesmo ao máximo, dentro de seus limites individuais: essa é a essência da corrida, e uma metáfora para a vida” Haruki Murakami, maratonista.
ANTES DOS ATOS
- Sim, creio será a melhor
maneira de agir. Estarei no meio de um dos corredores aguardando a passagem de
Ciocler, depois que os fãs mais afoitos o tiverem abordado vou me aproximar e
fazer minha pergunta; Digo ao menos se deixarem algum espaço. Nunca estive numa
noite de estreia. Quem sabe eu devesse falar com a Marjorie Estiano ou ainda
Luiz Henrique Nogueira e a Juliana Galdino. Depois de conversar sobre as
atuações e a peça em si acho estarei mais confortável para realizar minha
pergunta. Estarei? Pensando bem não mais sei. Não conheço o trabalho de Jô
Bilac quais são seus temas, sua abordagem? Quem é Monique Gardenberg e quais seus predicados como diretora? Como falar sobre autores que não
conhecemos? Sinto como o grande Outro me negasse o direito ao não saber. Nemo
tenetur se detegere! Maldita hora para não ter certezas, ou melhor: bendita!
Ainda estou longe do Sesc Ipiranga e suponho a coragem até lá surja. A coragem surge ou
é construída? Se fosse líquida bebê-la-ia? Há anos quero saber o que aconteceu
com o Dr. Luís Camillo quando foi ao encontro de Dimas Bevilláqua no final da
temporada d'A Cura. A série não voltaria nunca mais? Ai de mim! Triste destino
que me foi atribuído em vida acompanhar tramas em aberto. Caco estava
envolvido, ele, melhor do que ninguém, saberá cobrir com verniz de veracidade
os boatos que rondaram o fim da série. No final das contas quem é que vai para
um ponto meticulosamente pensando chegar a outro? O assunto definitivamente não
é a série e meu nome nem mesmo é Frances!!!
As portas se abrem e ele, atônito,
percebe estar na estação errada. Mal sabia ele: tinha embarcado na linha
errada.
OS ATOS EM SI
...se começar a chorar aqui de repente vai manchar tudo e eu vou ficar
horrível e só vou notar quando já estiver atravessado toda a avenida com cara
de palhaça e ficar assim rindo com a cara borrada abraçando meus amigos que
deixei de ver há muito tempo, mas isso agora nem faz diferença pois a cada
encontro os aperto como se pudesse dissolvê-los em meus braços de tão forte o
abraço, de tão forte que quero senti-los, de tão forte que tudo isso me toma,
de tão forte que meus sentimentos me inundam, de tão forte que essa dor no meu
peito explode como uma napalme nuclear, de tão afetuosa e de tão querendo e de
tão absoluta essa loucura que é o amor... Juliana Galdino
Quem é o outro? Quem somos quando
privados da interação com o outro? Privados da audição, estamos a sós com
nossos gritos e idiossincrasias. Demandamos por atenção, queremos ser vitrines,
disseminar preocupações, receios, anseios. Quanto nos permitimos abrir este
espaço para o que está fora de nós?! Podemos, por vezes, apenas estar
habituados a determinadas cadências, tons, flexões. AMANDA sofrendo de uma
doença misteriosa decide manter a perda dos sentidos em segredo. A aterradora
situação não a força a quebrar o ciclo. Sinais, palavra escrita? Nada! É
preferível não abrir diálogo algum. Prosseguir o monólogo. Quem sabe dar-se
conta de que essa escolha já fora tomada bem antes de o problema surgir. Ou
não.
A pior coisa do mundo é morrer deprimido. Vale morrer de raiva, morrer
de medo, morrer de rir, morrer de inveja, morrer de tesão, morrer de vergonha,
morrer de dor de cabeça, morrer atravessado por um arpão...Pode. Pode tudo.
Deprimido não. Luiz Henrique Nogueira
Meu amor, o que você faria se só
te restasse um dia? Não. Algumas horas, minutos, segundos? E se o filme de sua
vida fosse o retrato cínico do carma inexistente, resultado de nossa opressora
liberdade? Há cheiro de morte e não se quer saber o gosto do sangue, nunca. A
dor de LUIZ GUILHERME é ver se aproximar a última certeza. Ele, como o maluco
beleza, imaginou que ela viria no meio do copo de uísque, ou teria sido
conhaque desta vez? Certamente o brandy. Aquilo naquele instante não importava.
Ele, como muitos, pode se ter vestido
dum manto de invencibilidade, o #nuncavaiacontecercomigo e quem há para dizer?
Agora, unido com seu cavalo de aço reflete. Encontra humor. Melhor seria negar
a dor. Ah! Se ele pudesse tomar apenas mais uma dose. Estamos anestesiados de
nossas próprias tragédias ourobóricas.
A culpa não é sua, é um desgaste natural e tudo é descartável,
incluindo você. Incluindo o que você sente. Pensa. Quer. Pode (...) Você pode,
pode. E quem não pode? Se sacode onde? Como? Com que dinheiro? Você pode tudo
tudo, só não pode arregar! Marjorie Estiano
No meio do caminho há asfalto. Nada mais. Pouco importam câmeras e transmissões. A multidão se projeta, alguns almejam assistir o beijo no piche quente... Padres irlandeses podem estar a espreita, mas os passos se sucedem. Há uma série de atos interrompidos no cotidiano, planos desfeitos. Inspira. A linha de chegada é um objetivo concreto, palpável. Expira Chegar. Vencer também não está em jogo e sim não deixar o corpo perder - os sentidos? a vida? - O início e o fim estão além do alcance de VALQUÍRIA. A vida é sempre, sempre percurso-travessia de datas-dias-pessoas-passos. Há asfalto no meio do caminho e, diria Gessinger, a única certeza é que o último dia de dezembro é sempre igual ao primeiro de janeiro.
o porco/ morrendo/ esquece o
bicho que se apavora tanto/
esquece o grito do bicho que se
apavora tanto/
esquece esse grito/ esse grito/
esquece esse grito de quem mesmo
vivendo
na merda/ na lama/ quer ficar...
Caco Ciocler
Virá
Impávido que nem Muhammad Ali
Virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri
Virá que eu vi
Tranquilo e infalível como Bruce Lee
Virá que eu vi
O axé do afoxé Filhos de Gandhi
Virá
E aquilo que nesse momento se revelará aos povos
Surpreenderá a todos não por ser exótico
Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto
Quando terá sido o óbvio
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