"Govinda disse, 'Nós já aprendemos tanto, Sidarta. Ainda há tanto a aprender. Nós não prosseguimos em círculos, nós estamos indo para cima. O caminho é uma espiral; e nós já galgamos vários passos." Sidarta, de Hermann Hesse. Parte I, capítulo, Com os Samanas.
Versão editada da capa do "mangá" feito no René, em 2006 |
INTRODUÇÃO
“Pode parecer bobagem,
um impulso infantil”
Pode até soar apenas nostálgico e, talvez, seja, mas, o fato de ter um objeto
que muda de função de diversas maneiras. O evento também me levou a conhecer o
trabalho da “Restauração Prates”, especializada na restauração de obras de arte
e objetos de valor sentimental. Infelizmente, por novo descuido meu, os restos
mortais da caneca foram para o lixo... Se você, leitor ou leitora, desse texto também
acompanhar Once Upon a Time, sabe o quanto uma xícara com história, mesmo que
esteja lascada, pode ser poderosa. (Sim, o meu cânone é OUaT, A Bela e a Fera veio antes mas... perdeu a vez).
O MANGÁ
Nas últimas semanas,
tenho revisto as temporadas de Smallville, atualmente, elas estão disponíveis,
atualmente, pelo Prime Video da Amazon (não, este não é um artigo pago, como
aprendi com a podosfera, é sempre bom lembrar).
Há diversas instâncias em
que menciono a série até hoje, seja por ela ter sido um forte motivador para
que eu conhecesse bandas como Depeche Mode e Interpol – e outras, como Staind
que, apesar de eu nunca ter adentrado na discografia, figurava em meu “repertório
solo” com Outside – ou por muito de meu entendimento da mitologia do Superman
ter partido da mitologia instituída pela série.
Apesar de isso não tão
claro atualmente, o meu “eu” do ensino fundamental II, inclusive, tinha o
hábito de escolher tênis, chuteiras, ou mesmo jaquetas vermelhas para
contrastar com o azul do uniforme escolar. Tamanha era a inspiração em Clark
Kent.
Havia, claro, a
reverência ao cânone dos filmes de Richard Donner, que assistíamos em casa de
vez em quando. Com o icônico Christopher Reeve a, também, icônica primeira
dublagem com André Filho. Mas, “o grosso” ficou com Smallville.
De modo que, tenho a vaga
lembrança, parecia uma heresia que a Warner se decidisse por Brandon Routh para
seu Superman – O Retorno, quando Tom Welling desempenhava o papel de um jovem e
inexperiente Clark tão bem. Tivesse apostado nesse “transmídia” naquele, hoje,
longínquo 2006, talvez, a DC Comics/Warner tivessem inaugurado no cinema. algo
que, atualmente, com seus erros e acertos, tem ocorrido com maior frequência,
notadamente, no Universo Marvel.
JÁ ERA TEMPO
O sexto evento anual do
Universo televisivo de Arrow, Crise nas Infinitas Terras, realizado entre o
final de 2019 e o início de 2020, cruzou episódios das séries Arrow, The Flash,
Supergirl, Legends of Tomorrow e Batwoman, além de participações especiais de
Black Lighting e, claro, os próprios Tom Welling e Brandon Routh dando vida à
outras versões do Último Filho de Krypton. Dentre as participações, outra digna
de nota foi o encontro do Flash da série, Grant Gustin, com o Flash do Universo
Estendido DC, Ezra Miller, deixando claro, o óbvio, de que há espaço para
diversas encarnações concomitantes interagirem sem a confusão o público.
Não que desbravar fosse o
interesse da companhia, é bom ressaltar, com um orçamento megalomaníaco de US$
270 milhões, o filme com Brandon Routh, faturou cerca de US$ 392 milhões para
os cofres da Warner Bros. Pictures que, após o “divisor de águas” Cavaleiro das
Trevas, cancelou a sequência do filme e decidiu optar pelo tom “sombrio e
realista” – que dominou as produções da companhia até que surgisse a ensolarada
trinca “Mulher Maravilha, Aquaman & Shazam” – encabeçados pela produção de
Christopher Nolan e do “visionário” Zack Snyder: O Homem de Aço, de 2013.
O SONETO
Soneto de Dissociação (19/06/2020)
Uma confissão atrasada,
te faço
Pois sei que, há tempos,
eu já não te ouvia
E, mesmo eu ouvisse, você
partiria
Restando, a mim, só este
descompasso
Meu erro, querida, eu
sinto que foi crasso
Ao vê-la, de canto,
aquele dia
Não te aninhei, tal uma
cotovia
Resguardando, do sofrer,
estilhaço
Eu vi outrem, selando teu
frio lábio
Tua tez, a mim, lembrou
uma boneca
Um enigma, escondido, no
alfarrábio
Riscado em ouro, num
tesouro asteca
Não fingirei, ser fácil,
feito sábio
Saudades, de ti, vou
sentir: caneca.
Lembro quando assisti à
Returns em 2006, contava dezesseis anos, fui com a família ao Cinemark do
Shopping D e, após a sessão, comprei uma caneca que, na última semana, se
quebrou. Esse evento, inspirou a que eu escrevesse o soneto acima. Um exercício
descompromissado, afinal, é apenas uma caneca. Mas, diferente do Combo de
Vingadores Ultimato, por exemplo, ela teve diversas utilizações durante 14
anos, “ela também se mudou” de Arujá para Guarulhos, portanto, vale a
lembrança.
"certas vezes, a melhor xícara de chá, está lascada" |
O MANGÁ
Passada esta questão que
motivou o texto, me veio a lembrança outro “acontecimento” daquele ano de 2006.
Um dos pontos altos da aula de artes da pedagoga Marize Manopelli em meu
segundo ano do ensino médio, foi um trabalho em que realizaríamos uma história
em quadrinhos, é, inclusive, uma edição de sua capa que ilustra esse post. "o mangá" estará ao fim do
post, na íntegra.
Achei curioso nesta
história é que, em determinado momento, eu mencionasse “o segredo da ilha de
Lost”, uma vez que, de acordo com os registros do jornal O Estado de São Paulo,
a segunda temporada da série estreara pelo canal AXN no dia 06 de março.
Sabendo que o primeiro episódio que assisti da série foi em uma reprise de
domingo, a primeira vez em que assisti a Lost, foi no dia 12/03/2006. De acordo
com uma notícia veiculada no Omelete no dia 30 desse mesmo mês, a conclusão da
quinta temporada de Smallville estrearia nos EUA no final de maio ou início de
junho, chegando às telas da Warner Channel por volta do início de julho.
De
modo que, era o momento perfeito para integrar uma nova série ao cronograma.
Quem poderia dizer que, apenas três meses depois de começar a assistir, ela já
fizesse parte de meu imaginário a ponto de receber uma menção em um crossover,
constituído, principalmente, por personagens do universo de Smallville e The
King of Fighters?
Nem o violão que ganhei de meu pai passou incólume ao Homem de Aço |
RAMIFICAÇÕES
Por último, mas, não
menos importante, algo que notei na história é que das sete personagens que
aparecem, apenas uma é feminina. Em uma participação monossilábica da mãe
biológica de Kal-El, Lara-El – inspirada claramente na Saori presente na capa
da edição nº 37, de julho de 2003, da primeira edição do mangá Cavaleiros do
Zodíaco, publicado pela editora Conrad.
Isso me chamou ainda mais
atenção, devido ao fato de que, em revisão, Smallville é uma série com diversas
personagens femininas marcantes e, ainda que toda a ação do seriado seja
conduzida com o intuito de descobrirmos como Clark Kent se tornou o Superman,
cada uma delas tem seus próprios arcos definidos e que, nem sempre, tem relação
com o kryptoniano. Pensando no texto durante a terceira semana de junho,
constar isso ficou, para mim, ainda mais gritante, ao surgir em minha timeline
que 21 de junho é o aniversário da atriz Erica Durance, que interpretou Lois
Lane durante sete anos e participou do supramencionado evento Crise nas
Infinitas Terras do canal CW.
A lembrança que eu tinha
de meus quinze anos, era de não ter recebido bem a chegada da personagem à
série. Provavelmente, por significar “a saída” da personagem Chloe, que sempre
fora uma favorita. Estando próximo ao fim da sexta temporada, vejo facilmente o
quanto desta opinião mudou: A personagem trouxe uma série de novas dinâmicas
para o seriado e, mesmo a quarta temporada, com foco na busca pelos artefatos
guiada pela “reencarnação” da bruxa Margaret Isobel Thoreaux, ‘induzida’ por
Genevieve Teague, a única vilã da série e que, curiosamente, nunca conheceu
Clark, se mostrou mais divertida do que eu me lembrava. Algumas opiniões, não
sobrevivem à regra dos quinze anos e, que bom.
Ainda pensando em Lois
Lane e sua representação, apesar do fan-service, na série a personagem recebe
muito mais a fazer que Amy Adams, a Lois atualmente nos cinemas – embora,
séries, por definição, permitirem um desenvolvimento mais incisivo a longo
prazo. Encontrei, inclusive, um artigo de Laura Wilson, da Universidade de Nova
Jérsei, com o título “How Progressive Of You: The Women of Smallville” (Que Progressivo
de Sua Parte: As Mulheres de Pequenópolis, em tradução livre) que pode ser lido
na íntegra aqui . Nele, a autora faz uma
análise da presença feminina dentro dos 217 episódios da série e os diferentes
arquétipos, convenções e evoluções passam seis personagens femininas principais:
Chloe Sullivan (Allison Mack), Kara Zor-El Kent
(Laura Vandervoort), Lana Lang
(Kristin Kreuk), Lois Lane (Erica
Durance), Martha Kent (Annette O’Toole), e Tess Mercer (Cassidy Freeman). Traduzi um trecho em que
ela descreve a presença da Lois de Erica na série:
“Lois Lane é o segundo interesse amoro de Clark e uma prima de Chloe, ela é introduzida no início da quarta temporada, após a Chloe se declarada morta. Ela tem, inicialmente, uma relação algo que mordaz com Clark, mas eles eventualmente se tornam colegas de trabalho e legítimos amigos, antes de evoluírem para interesses amorosos na oitava temporada.Lois é a destemida filha de um general militar, o que significa que ela, diferente de Chloe e da Lana das temporadas iniciais, tem um legitimo treinamento para auto-defesa desde o início. De diversas formas, Lois é o oposto de Lana, ainda que mantendo, basicamente, o mesmo papel na narrativa.Frequentemente, Lois acaba necessitando se resgatada por Clark. Essas abduções são usualmente não causadas pela obsessão de um vilão com ela ou suas conexões com Clark e outros heróis, no entanto, em vez disso, é a própria curiosidade de Lois e o desejo de investigar a fundo situações perigosas é o que a leva a terminar como uma donzela em perigo. Muitas vezes ela revida, às vezes até salvando a si mesma com apenas algum apoio menor e não exibido de Clark. As únicas instâncias em que ela está completamente indefesa é quando ela está seriamente ferida, inconsciente ou contra um oponente que, de alguma forma, tem superpoderes”.
Considerando
as leituras possíveis de serem feitas hoje, o "eu" que está a ver a série nem pode ser considerado a mesma pessoa que a viu a primeira vez, a impressão de que é uma série, muitas vezes, distinta. É
bem diferente, inclusive, acompanhar uma série semanalmente e poder visualizar,
on demand, todas as resoluções de tramas. Finalizo então, tomando emprestado o título do quinto álbum do rapper
Gabriel, O Pensador, “seja você mesmo, mas não seja sempre o mesmo”.
DEVE SER O QUE CHAMAM TÚNEL DO TEMPO:
Ter o registro da avaliação ancorou o trabalho em 2006 |
Adaptação manuscrita do aviso dos mangás da Conrad/JBC Obviamente, a história, apesar de colorida, Foi concebida da esquerda para a direita |
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