“A afirmação de Aaron Copland de que “cada nova obra traz consigo um elemento de autodescoberta. Devo criar a fim de me conhecer, e, já que o autoconhecimento é uma busca sem fim, cada nova obra é apenas uma resposta parcial à questão ‘quem sou eu’, e traz consigo a necessidade de continuar a busca de outras e diferentes respostas parciais” é uma maneira diferente de expressar a mesma necessidade. Pessoas conscientes de uma divisão aguda dentro de si são impulsionadas a criar de forma recorrente, em parte pela necessidade de curar a divisão e em parte a fim de formular ou descobrir sua própria identidade.” – Anthony Storr – A Dinâmica da Criação, Benvirá, 2013, p.409 (Tradução de Ana Cláudia Fonseca e Claudia Gerpe Duarte)
Representação de diversas faces de Katy Perry em uma. |
Muitas em mim (2019)
Letra: Fabíola Passos Almeida
Música: Thales Salgado
Povoada pelas contradições
Persigo a luz
Sem notar que caminho
No escuro
Escolhi o que é verdade
Reduzi o resto a uma farsa
Neguei minha multiplicidade
Neguei minha humanidade
Nem por isso sentei à mesa
Com os deuses
Afinal, quem sou eu?
Eu sou muitas em mim
Reduzi o resto a uma farsa
Neguei minha multiplicidade
Neguei minha humanidade
Nem por isso sentei à mesa
Com os deuses
Afinal, quem sou eu?
Eu sou muitas em mim
A PIRAMIDE
Identidade e Beleza Parasita formam uma pirâmide quadrangular em Ikiryou EP.
Considero que, conceitualmente, Muitas em Mim, junto
a
As três canções foram compostas sobre versos da psicóloga Fabíola Passos
Almeida, de modo que ela representaria “a base”. A face lateral direita, o Leste, seria a
composição deste post, “o início”. Identidade, seria a face oposta, frente ao
poente. A face frontal, é Beleza Parasita, melodicamente, a composição mais
diferente desta safra. Eu, enquanto compositor, represento a face contralateral,
oculto como o ‘homem atrás da cortina, o mágico de Oz’.
O artista Bob Barduchi representou visualmente o conceito que permeia a "trilogia" |
Ajo como receptor das palavras e as transmuto em
melodia, mas evito fugir dos temas ou alterar versos, mesmo que todas estas
canções tenham sido compostas sem avisar a autora previamente. Há, de todo
modo, uma troca.
O PAPEL DA FACE OCULTA
Recebida em seis de dezembro de 2019, a composição
estava pronta já no dia 7. Se me permito uma influência para esta melodia foi a
canção Furo 2 (Sangue do Paraguai) da banda carioca Baleia.
Minha sensação foi a de tentar, em seus versos
iniciais, passar a lentidão. Assim, optei por alongar determinadas sílabas. Tal
como ela inicia “poooooovoada peelas contradiçõõões...”.
O manuscrito que precedeu a canção |
Em algum momento surgiu um “é” ao cantar a estrofe,
em que posso ter pensado? ‘O papa levou um tiro a queima-roupa é, é’
ainda assim, foi um incidente. Mas... foi mesmo?
Afinal, se há em mim o interesse pelo trabalho de
outras bandas, como evitar que isso “vaze” para minha própria criação? Talvez, essa
influência não seja Thanos, mas seja “inevitável”.
Carece de fontes, mas já ouvi – e posso até ter
utilizado em um texto anterior – que desenvolvemos nosso estilo emulando nossos
ídolos. Na didática da invenção o poeta Manoel de Barros afirma “repetir,
repetir – até ficar diferente” em Mar Deserto, Moska canta “repetir, repetir,
repetir... até ficar diferente”. Você, leitor ou leitora ainda está aí? Os parágrafos
passados parecem caóticos demais? Para mim, parecem, mas são importantes no
sentido de informar que, se há uma essência em mim, ela não é poesia, mas
prevalece.
FRAGMENTOS
Por algum tempo, pensei encontraria uma chave
referente aos conflitos entre identidades mencionado nas letras nos estudos do
psicanalista Erik Erikson, e, após consulta inicial por alguns comentadores, é provável
que resida algo que apenas um mergulho propriamente dito possa trazer à tona.
Contrariando minha expectativa, uma das frases que
fez sentido para mim foi proferida pelo profº Neil Mackinnon em uma matéria
para a Universidade de Guelph há cerca de dez anos, quando ele publicara com
David Heise o livro Self, Identity and Social Institutions.:
"A influência pós-modernista nas ciências sociais têm questionado se as pessoas possuem um "eu" coerente e estável. Alguns argumentaram que um mundo fragmentado leva a uma fragmentação do eu. Mas demonstramos que, de fato, as pessoas podem ter um eu nuclear que é coerente e estável mesmo em nossa sociedade pós-moderna".
FRAGMENTOS EM IMAGENS
Foi, também, devido a esta frase, que entendi que a
imagem a ilustrar o post deveria ser essa. Elaborada por uma sugestão de
Mariana Licori, que, em fins de julho comentou que o Portal Katy Perry abriria
inscrições para o The Smile Museum. Assim que ela comentou, uma arte surgiu “um
retrato frontal, dividido em seis faixas verticais com detalhes de cada uma de
suas fases, por meio do cabelo e maquiagem” As matrizes escolhidas foram:
Hello Katy – 2009, California
Dreams – 2011-2012, Prismatic World Tour -2014-2015, Witness World Tour – 2018
e Smile – 2020. Representando a Katy Perry “ortônima” me inspirei
em seu visual clicado no tapete vermelho do iHeartRadio Music Awards em 2019.
As transformações visuais da artista valem publicações
inteiras, por isso, decidi por, na maior parte, ater-me apenas no aspecto de
divulgação das turnês. A silhueta que serviu de base é inspirada na foto que
consta em uma matéria de Petra Gulielmetti em julho de 2013 para o site glamour.com.
Para que a ilustração não se resumisse à
cronologia, os estilos foram colocados aleatoriamente. Muitas faces, em uma pessoa
só.
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