"Você gosta de anime?" - A pacífica Aggretsuko de Oz, 29/07/2021
Quando me disse estas palavras, ela certamente não pensou que colocaria uma série de lembranças em movimento. Ainda aquela pergunta despretensiosa tivesse a intenção de comentar a série homônima a ela, presente na Netflix desde 2018 a minha resposta foi para um rumo distinto: "Minha vida mudou no dia 1 de setembro de 1994 quando Cavaleiros estreou na Manchete. Quando reestreou em 1 de setembro de 2003 na Cartoon Network, eu fui atropelado enquanto corria da escola para casa para ver". Estas duas histórias poderiam ser alongadas, ou mesmo o dia em que, enquanto criança, caí em um golpe dos garotos do bairro que ofereceram um boneco original. Esta história foi transformada em diálogos em um exercício de escrever 100 palavras por dia proposto pelo escritor e professor de escrita criativa Tiago Novaes, em 2019:
Fiquei
sabendo sobre o evento vendo o código promocional no canal Katsu X. Qual não
foi minha expectativa? Eu que não tive interesse em ir às convenções renomadas,
fiquei super empolgado ao ver que teria a possibilidade de conhecer o grande
Gilberto Baroli. Todos os outros também, claro. Letícia Quinto, Élcio Sodré,
Francisco Bretas. Nesses 25 anos de Cavaleiros na Manchete, foi esse elenco da
Gota Mágica (posteriormente Álamo e Dubrasil) que fez muitos de nós conhecermos
os artistas por nome e valorizar aquele trabalho. Decidi comprar de cara:
credencial Big Bang! Ter acesso a tudo que tivesse direito ao mesmo tempo
incentivando tal ação a ocorrer de novo. O sábado pareceu promissor, vi de
longe, as dez da manhã um jovem Hyoga de cisne. Gosto quando o cosplay já chega
ao evento agindo o personagem. (Imagino fosse Ronaldo seu nome). Rapaz
divertido, contava na fila histórias sobre como tinha aproveitado o sono de
Athena para levar seu báculo. Enquanto se via alguns calculando ascendentes, os
minutos passavam. O atraso foi encarado com bom humor “talvez precisemos
absorver os raios solares e entrar porta a dentro!”. Ah! As referências,
Capitão América estaria orgulhoso (antes que perguntem a razão de colocar a
Marvel no meio do santuário, lá na frente fará sentido).
Não
haviam indicações precisas do que ocorreria no primeiro andar, então o fã ia
tateando às cegas pela escadaria (ao fim de uma escada, nem mesmo uma decoração
como fosse a casa de Áries, o simples, fãs de cavaleiros sabem apreciar uma boa
e velha escadaria). A programação dizia que as 10h começariam as exibições dos
filmes na dublagem clássica mas já passava muito e não parecia haver sinal. A
palestra sobre Saint Seiya Online também não agregou muito, a maior parte dos
presentes conhece as diferenças entre o mangá e o anime, e por mais a história
seja cíclica, contar spoilers do jogo também tirou um pouco a graça.
"O interesse nas referências de Kurumada era tanto que, em agosto, cheguei a desenhar Mankichi Togawa da obra Otoko Ippiki Gaki Daishô, de Hiroshi Motomiya. O criador de Cavaleiros já comentou que, sem sua influência, talvez não se tornasse mangaká. Imagino que, sem Cavaleiros, no mínimo, meu entusiasmo pela mitologia grega seria menor."
Quando
finalmente pudemos assistir À Grande Batalha dos Deuses, qual não foi a
surpresa ao ser apenas a exibição de um vídeo do YouTube (isso mesmo, não houve
nem o trabalho de obter um .MKV HD!) mas o público tentava se satisfazer
revendo a pose de deboche de Seiya ante os guerreiros deuses. Falando em
dublagem Gota Mágica, como é bom ouvir Carlos Campanile como Durval. A questão
é que todos já viram e não havia nenhuma reverência a forma como o material era
apresentado. Antes de a armadura de sagitário surgir, os alto falantes comentam
que os kits estão disponíveis. Isso mesmo, o desrespeito não era apenas com
quem estava presente, com quem tinha se deslocado para a comemoração, era com a
própria obra (!). Não custa esperar um vídeo acabar. Se a internet tivesse
caído, o programa tinha acabado? As horas foram passando e nada de palestras ou
dubladores. Era preciso se contentar com episódios de Lost Canvas. Bela
animação, bom trabalho de dublagem mas… Sério? Eventualmente chegou ao ponto do
concurso de Cosplay e foi bem legal. Revi o Hyoga da fila, vi um Poseidon que
tinha realmente aura divina e, confesso, vi uma Shun que me fez pensar que a
mudança era bem-vinda. Os cosplayers pareciam se divertir muito, as poses, as fotos,
a sensação de ser um personagem querido é muito forte e eu (que já tive meus
tempos como Joker há uns onze anos) fiquei contente em poder bater palmas para
cada um ali. O prêmio maior era poder ser prestigiado. Mais uma vez parabéns a
todos os cosplayers (até para o pequeno Harry Potter que se meteu no evento).
Com a palavra, Hyoga de Cisne |
Faltava o principal: palestras e dubladores. Em algum ponto da história, talvez até antes do desfile, o organizador apareceu e pediu desculpas, aí entra o que eu falei: estava lá com a camiseta da Marvel! (Nada contra, vi Ultimato três vezes no cinema) quando o próprio organizador não ‘veste a camisa’ de seu evento, você percebe que algo de errado não está certo. Houve uma falha no planejamento, ele concentrou tudo sozinho e dificultou a entrega, coisas saíram foram do controle. Até aí, tudo bem. Finalmente Ulisses Bezerra, Letícia Quinto e Élcio Sodré subiram ao palco. Não houve tempo para palestras e eles não poderiam ficar muito tempo, o Élcio tinha um avião para pegar, sabemos quão exigente é a profissão. Ao menos quem estava lá poderia pegar o autógrafo da Saori e o Shun. Ou isso era sonhar demais? Sabe quando você está zapeando a tv a cabo e, de repente, passam para o filme seguinte? “Por premissa de tempo passamos à frente em nossa programação”. Foi bem isso que aconteceu. A Letícia muito educadamente explicou que não poderiam atender a todos e iam delimitar um ponto x na fila. Pude sentir Athena falando comigo, aqueles momentos em que a deusa fala algo e todos os cavaleiros se prostram a ouvir. Algo nessa linha. Eu nem tinha levantado, um cosplay de grande mestre chegou, mas era tarde demais para ele. Ao menos conseguiu algumas fotos com fãs. Élcio, baita profissional que é, levantou e gritou seu característico CÓLERA DO DRAGÃO! Todo o santuário tremeu: o Shiryu, amigo.
Um dos desenhos que fiz em 2019, sinais da febre |