terça-feira, 1 de maio de 2018

As Faixas Instrumentais

"Quando componho ou apresento músicas, o faço por ser o que está em minha alma. Nunca penso se as pessoas vão gostar ou desgostar de minha música, apenas componho e apresento a música que faz sentido para mim, a música que está dentro de mim. " Yanni em entrevista à revista NeeHao em 2014
Nuit celtique (Saint-Patrick): musiciens Foto: F.de la Mure

         A primeira lembrança que me vem quando penso em músicas instrumentais, é a de, com uns dez anos, talvez? Assistir às fitas VHS dos concertos de Yanni. Live at Acropolis e Tribute. Eram as músicas favoritas de minha mãe para trabalhar com seus diários escolares. Ainda que, num primeiro momento, eu não gostasse, com o passar dos anos e subsequentes audições do musicista grego ampliaram minha ideia sobre a música. Não era apenas sobre poder observar o grande compositor grego, e sim, a reunião de artistas engendrada por ele como a violinista norte-americana Karen Briggs, os sopros do multi-instrumentista  venezuelano Pedro Eustache, o tecladista taiwanês Ming Freeman, entre outros. Cada um com sua expertise em destaque em algum momento e somando para um todo que os ouvintes não podem imaginar ao ouvir as gravações em estúdio. Mencionei destaque para a nacionalidade de cada um, pois, Yanni é conhecido como "O Verdadeiro Artista Global". Então, assistir com meus pais a uma de suas apresentações em março de 2014 foi como fechar as pontas com a infância.
          Adotei o  hábito de realizar atividades ao som de música instrumental, primariamente, para leituras. Trilhas sonoras de filmes como as de Hans Zimmer costumam surgir. Ou o álbum Rasura do grupo curitibano ruído/mm. O problema em falar de música instrumental é a falta de entendimento teórico. Por conta de suas letras é mais fácil analisar o peso das canções. Com musicas instrumentais é diferente, elas também fazem sentir, remetem à outros eventos: um momento, um filme. Tomar emprestados os versos das canções como linha guia para a narrativa é uma forma de tentar me colocar no lugar do artista, se os versos mencionam poetas, se fazem referência às letras dos álbuns anteriores, outros artistas. Nem sempre é possível traça-las, por mais esforços e audições, mas parece concreto. Algo que não ocorre com faixas instrumentais.
         O fato de ser capaz de apreciar faixas instrumentais, no entanto, nunca permitiu que eu as compusesse. A primeira vez que utilizei uma melodia sem a letra foi em 2007. "A Última" nada mais era que Um Conto no Jardim sem a voz. Naquele momento, estava surpreso com as possibilidades de gravação caseira, sobreposição de faixas, efeitos. Ainda que a sincronia não estivesse perfeita.

     Levou alguns anos até que eu decidisse tentar algo inteiramente instrumental, Nothingless foi pautada por um cavaquinho fora de afinação e uma meia lua. Ao final, busquei aplicação de uma flauta de pan. Seria preciso um metrônomo para que ela funcionasse direito. A linha melódica realizada pelo violão foi pensada para uma letra. Não pude intuir o que seria possível dizer, então, assim ficou.

         No mesmo ano (2009) enquanto tentava praticar o uso do aplicativo Acid Pro passei a experimentar as possibilidades dos plugins VST num teclado virtual. A intenção, dessa vez, era a de preparar uma série de faixas mais eletrônicas com o intuito de serem a trilha antes/após uma apresentação da banda. De modo a tornar todo o conteúdo autoral. Quase sempre há uma trilha ambiente quando a apresentação não toma parte. 

      Um amigo apreciador de música eletrônica disse que ela não possui dinâmica suficiente para esse intento. Isso demonstrou que é preciso conhecer mais de um estilo musical antes de tentar se aventurar a ele. Após junho de 2009, a Falsa Modéstia não se apresentou mais então acabei por engavetar a ideia.

         Para Mosaico de Estrelas, em 2011, a cada duas faixas há um intervalo instrumental. Interregno 8689 poderia ter letra. Nazar Boncuk (mencionada no texto sobre Lives) é outra das composições sem letra desse ano. Passiflora Edulis leva o nome científico do maracujá e foi a primeira composição feita com a craviola de doze cordas. Foi apenas ao fim de 2016, com Vita Brevis que completei uma composição com ela e letra. Aqui, havia o interesse em tentar traduzir sensações.

        Se você chegou até este ponto na leitura, comente se sentiu alguma coisa. Em minhas leituras já reparei que há artistas que fazem uma cama sob a qual a voz se encaixará. Para alguns, é comum trabalhar desta maneira. Até onde vi. Desde que comecei a compor em 2007 essa atividade nunca foi realizada. A palavra. É sempre ela a motivadora dos textos, composições... Meus cadernos também não possuem letras aguardando por melodia. Será que um dia terão? 

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