segunda-feira, 27 de junho de 2016

Ilusão

“Quando digo que todas essas coisas são ilusões, devo definir o significado da palavra. Uma ilusão não é a mesma coisa que um erro, nem tampouco um erro. (...) O que é característico das ilusões é o fato de derivarem de desejos humanos. (...) As ilusões não precisam ser necessariamente falsas, ou seja, irrealizáveis, ou em contradição com a realidade (...) Podemos, portanto, chamar uma crença de ilusão quando uma realização de desejo constitui fator proeminente em sua motivação e, assim, procedendo, desprezamos suas relações com a realidade, tal como a própria ilusão não dá valor à verificação. ” (Freud, 1927/1974. p. 43)

Mas ele não podia admitir a si mesmo o pavor causado pelas folhas em branco. Sabia que começar um texto assim era um embuste. Quantos desistiriam da leitura ao perceber isso? Era hora de inserir alguma verdade ali: seu pavor se deu em 2007. Tinha então dezessete, e o dia vinte e sete de outubro traria uma apresentação da Falsa Modéstia. Afirmou que se encarregaria de preparar o repertório, unir os fragmentos melódicos e versos deixados em aberto entre amigos para que tivessem mais que três composições. Já lera entrevistas suficientes de bandas para entender que mesmo um disco com doze faixas poderia ter sido lapidado de um universo de centenas, pudesse chegar a uma dezena, bastaria. Tinha em mente que o baixo soaria o mais próximo pudesse das faixas dos jogos Sonic Blast ou Chaos. Ele se desviava de falar da letra, lembrava, sim, que por não imaginar versos diversos o bastante, limitou-se a repetir a estrofe duas vezes e, conjugar o verbo no infinito!
As três palavras? Não pretendia escorregar num clichê tão cedo...
Será?


Ilusão (2007)

Não vai mudar
Ainda hoje penso em te encontrar
Não vai mudar (Oh não)
Tento enxergar
Em outras belezas tuas formas
Fujo a pensar

Mas não vejo solução
Ou fuga simples pra questão
Em seus olhos, noite em claro
Me arrasto pelo chão

Quero sonhar
Mas sem esbarrar em sua imagem
Como parar? (Não sei.)
Finjo lutar
Com tua lembrança noite e dia
Finjo lutar

Mas não vejo solução
Ou fuga simples pra questão
Três palavras não se calam
São a voz de um coração
Me engasgo, corro e paro
A dar ouvidos à razão
As palavras que não disse
Você sabe quais são.



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