sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Fotografia

“A melhor coisa de uma fotografia é que ela nunca muda, mesmo quando as pessoas nela, o fazem.” - Andy Warhol

Postagem de julho de 2011 com o poema original de Kariny

       

         Dentre os recursos recorrentes em minha observação de mundo está a tentativa de enxergar tudo sob um viés literário. Seria uma doença? Mergulhando no Mal de Montano de Enrique Vila-Matas me ponho a perguntar se sofro deste mal. Forrar um texto de citações demonstrando a falta de um pensar particular. Recordo da leitura de Schopenhauer: Quando lemos, outra pessoa pensa por nós: só repetimos seu processo mental. Ao mesmo tempo, podemos ruminar entre leituras e não chegar a conclusão alguma. Isso diz mais acerca do escrito em si ou da habilidade do leitor? Pode ser que isso não importe, ou então que eu tenha perdido o fio da meada. Os textos deveriam surgir na quarta-feira, e não posteriormente. Este parágrafo me parece inútil, avisar a esta altura, no entanto, tornou a leitura indispensável.
         No dia vinte e cinco de março de 2013 me veio uma melodia e corri para o violão em busca de traduzir o emaranhado de sons em acordes. A palavra a estimular a procura de sentidos que seriam versados foi "fotografia". Longe da intenção de criar um texto a tendo como tema, recordei um texto de Kariny que eu travara contato anos antes. Nunca tive o hábito de tirar fotografias. Desde pequeno o texto sempre pareceu melhor aliado na eterna luta contra o possível esquecimento. Também não convém ser tão drástico. Ao menos até o início da adolescência não tinha senso crítico o que levou minha versão infantil ter centenas de fotos com discernimento quase-zero. Outros tempos, o filme fotográfico tornava os registros algo especial, fosse um filho dormindo ou um sorriso montado num burro magenta & mostarda. Enfim, na era das câmeras na mão a cada celular parece haver uma ânsia por capturar cada momento em lugar de vivenciá-lo, seja com museus, viagens ou amores. Não escapo totalmente disso, minha dileção é por fotografias com artistas, como se nesse contato se transmitisse algo essencial (...).
         Quando mostrei a Kariny ela se mostrou surpresa nunca achei que um escrito meu fosse digno de uma música sua. Agrada poder sentir-se gregário pela música. Sair da própria mente aproveitando aquela coisa toda de Oswaldo Montenegro, conclusões que eu não chegaria. Desembocar no refrão de Caetano: Outras Palavras.

Fotografia (2013)
 
Fotografias são mentiras
No momento em que serão registradas 
Só se ouve o "Sorria!"
Falsa fotografia! 
Abrem-se os dentes e mais nada.

Mas mentiras
Porque não estão lá. 
E iludem, 
E lembram
Porque
Foram registradas.

Fotografia: E velha, tão velha ficou nossa

Fotografia, sorrisos gelados
Passado que não mais temos
Não quero ser fotografada.
Por favor, não fotografem mais!

Fotografia: E velha, tão velha ficou nossa


Nenhum comentário:

Postar um comentário