quinta-feira, 1 de março de 2018

Felinos

"O teu dorso condescende à morosa
Carícia da minha mão. Sem um ruído
Da eternidade que ora é olvido. 
Aceitaste o amor desta mão receosa. 
Em outro tempo estás. Tu és o dono 
de um espaço cerrado como um sonho." 
A um Gato, Jorge Luís Borges 

Gato e Rato, por Maurício Nascimento

 

Felinos (2009)
Música: Bruno Oliveira

As vezes sinto pena dos caninos
Que passam noites uivando
Seguindo seus instintos lupinos
Mas vejo a situação assim:
"É tão melhor para quem é felino"
E eu não sei. Eu não sei quem sou

Mas se felina for tua intenção
De encarcerar meu coração
Eu sou felino teu
No meio das marchas da noite
Entregar-me-ei

Venha com presas avassaladoras
No fim das contas eu não vou lutar
Domine-me que seja nas masmorras
Faça-me um gato daqueles que uivam pro luar



       Há muitos gatos na História, os vistos como divindades, como objetos de sacrifício. Outros simplesmente domesticados, em parte, por seus donos. Nunca tive gatos, longe de mim mencionar algo relativo e errar completamente. Se você leu até aqui e é apaixonada (o) por gatos, comente quais são os maiores predicados desses animais. Será ótimo conhecer mais. A literatura de Haruki Murakami está repleta de gatos. Na trilogia 1Q84, há uma parte dedicada ao conto de uma cidade dos gatos, por exemplo.Em 2009, eu ainda estava longe de conhecer a obra de Murakami. Tampouco havia lido Relatos de um Gato Viajante da escritora Hiro Arikawa, uma de minhas leituras mais espirituosas de 2017. Então o que me levou a escrever um poema chamado Felinos?
       A ideia era tentar criar o senso de uma paixão tão forte que, um dos lados, não se importa em ter a própria natureza trocada. Eis aí a brincadeira entre lupinos e felinos. (I'm talking about spectacular, consciousness-altering love). A questão é, escrevi. Dediquei. E as palavras ficaram ali. Num de meus cadernos (eis a era pré-moleskine 😮) até o momento em que Bruno enviou uma linha de baixo melódica e, enquanto buscava os acordes as palavras surgiram e, como adoro dizer, foram calçadas feito luva. Apenas dois acordes se repetem por toda a canção, o que a torna perfeita para jams.




2 comentários:

  1. Minha esposa insistiu em termos um gato quando nos casamos, mesmo eu sempre preferindo a alegria dos cães, concordei com termos um gato pois o trabalho seria menor em um apartamento de 57mts². Ela foi até a zoonoses de Poá e trouxe não um, mas dois gatos, sobre o argumento de eles darem companhia um para o outro na nossa ausência. O que aprendi com os felinos, a ser mais sensível ao menor gesto. É bem fácil ver quando um cão está feliz ou triste, pq é um cão é como eu fácil de se ler e um potencial perdedor no poker. Já o gato, é preciso investigar, observar e sentir para saber qual o tipo de carinho, o tipo de brincadeira, o tipo de comida. Os gatos me deixaram mais sensível em tentar compreender o outro.

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    1. Olá! Gosto desse tipo de vínculo, quando sabemos as origens de movimentos e bifurcações que fazemos.
      Por sugestão de sua esposa, você ganhou muito mais do que esperava com os felinos.
      Como disse o meu colega Fernando Pessoa: Tudo vale a pena se a alma não é pequena. A natureza tem seus mistérios.

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