domingo, 22 de abril de 2018

Podia ouvir Drexler

"Então, (sobre Despedir a los glaciares) eu diria que essa e uma das canções mais duras que já escrevi. Porque ela fala sobre uma coisa que já não tem solução, sobre o que vai embora e o que vai se derreter. Quando você perde algo ou uma pessoa é preciso dizer adeus, e não deixar que o medo e a dor façam você esquecer de que também é importante se despedir. Mas há muitos sentimentos ali." - Jorge Drexler em entrevista à Nathália Pandeló Corrêa, para o Tenho Mais Discos que Amigos.

Jorge Drexler em foto postada em sua página no Facebook
Guarulhos, 22 de abril de 2018

         Era ano do macaco a última vez que nos vimos. Nos conhecemos num ano da serpente então, se houver janelas de oportunidade instituídas pelo ano chinês, pode ser nos vejamos em 2025. Dias atrás eu estive num show do Jorge Drexler. Acho que te falei dele no mesmo período em que vimos o Kevin Johansen. Há alguns anos, o Moska me colocou na cabeça que, brasileiros, costumamos dar as costas para nossos hermanos. Passei a ouvir alguns de seus parceiros: Nano Stern, Pedro Aznar... Em conformidade com isso meu pai chegou uma vez me perguntando de um cara ouvido na rádio dizendo hay tantas cosas yo solo preciso dos, mi mi guitarra y vos. Ali conheci o trabalho desse uruguaio, acho que já te falei isso. Pra tentar complementar algo posso dizer que busco essa autossuficiencia. O violão e a voz nunca me bastaram, será que eu demonstrei?
         Mas eu estou escrevendo, pois, creio você podia ouvir Drexler, teria gostado dessa apresentação seja quando calcado no violão ou com a banda completa. Ele contou várias histórias e interagiu com o público sempre que pode. Se ouvir os álbuns você consegue captar o bom humor, enfim, a Casa Natura fica bem próxima ao metrô então não haveriam aquelas longas caminhadas que você acabava fazendo, lembra? Eu gostava de irmos fazendo nosso mapa sem o auxílio veicular. Estávamos sempre em movimento.
    Mais de uma das músicas remeteu a conversas nossas. A música de abertura fala sobre sermos todos pais, netos e bisnetos de imigrantes. Falávamos do resultado da mistura dos lisos cabelos indígenas com o orgulho alemão ou meu sobrenome português e a falta de acesso ao sobrenome espanhol por ausência de documentação comprobatória. Assim como aquela vez à Bragança, poderíamos ir ao Uruguai de ônibus. Já ouviu falar do Cabo Polônio? Ele leva doze segundos para a luz fazer a volta completa, imagina só andar nestas condições numa noite!.. É, estou falando em andar de novo né? Que cabeça a minha. Espera, posso mudar de assunto. O Tó Brandileone do 5 a Seco subiu ao palco também. Eles cantaram Todo se Transforma. É meio Lavoisier a ideia, embora eu tenha dificuldade com isso de "nada se perde" quando a transformação não é do meu agrado. Ainda assim, falando do show, ele me deu vontade de ver algum filme de Eric Rohmer. Sempre víamos filmes mais agitados. Era escolha ou imposição do cinema hollywoodiano? Até vimos longas franceses, japoneses, nunca eram a maioria, todavia.
    Teve algo dito, não recordo se antes ou depois de Pongamos que hablo de Martinez, relativo a essa questão com o tempo levado para agradecer/homenagear alguém ser imposto pelas próprias canções. Ele levou cerca de vinte e dois anos  para desabrochasse uma. No meu caso não levei tanto tempo assim mas é inconveniente mesmo assim, afinal, você já havia mudado de cidade. Custava ter conseguido versos três meses antes? O Carpinejar disse que se não esquecemos alguém é por não termos sido sinceros quando deveríamos, o que você acha? Ter usado nosso nomes verdadeiros naquele texto não significaria nada. Você já informara de sua vida nova no dia de Iemanjá. Tem uma outra música, ele diz que embora todos creiam ter inventado algo seguem sendo as mesmas canções. É o tipo de insight que eu não alcanço. Isso me leva a assistir esses artistas que contam com seu empenho e sua pluma voadora. Inspiração, projeção, um pouco dos dois, creio. Te indicaria ouvir Telefonia mas há mais de um ano não vejo seu nome nas chamadas recebidas, vou tentar amar a trama mais que o desenlace.
     Se você se permitiu chegar aqui, podia ouvir Drexler. 
Beijos,         

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