quinta-feira, 9 de abril de 2020

Beleza Parasita

"Humano, assim como a palavra "homem" deriva do grego "humus", que por sua vez significa terra. Uma das leituras possíveis do significado que possamos dar é a de "terra fértil". A nossa capacidade que nos diferencia de todos os outros seres, é que nós temos o potencial de sermos acolhimento, nutrição e suporte para que o outro se desenvolva.Por isso os gregos escolheram esse termo para tentar explicar o que é ser humano. Suporte, carinho, compartilhar ideias, deixar crescer, ajudar a evoluir...tudo isso pode ser construído dentro das relações, seja elas entre pais e filhos, casamentos, amizades, família. Você tem sido terra fértil para o outro?" Fabíola Passos, 09/10/2019




         Anos sempre passam alheios a nós. Ontem, era uma colega da sexta série de quem  eu ouvia falar. Em um estalar de dedos, passaram dezoito anos! Desses, espero tenha podido fazer ao máximo as coisas a que se propôs. Se não? Há sempre as resoluções pós-quarentena. Como lhe entregar uma cópia do vol. 2 d'O Assassinato do Comendador.
     Em uma carta para John Taylor, John Keats escreveu que se a poesia não vem naturalmente tal as folhas para uma árvore, é melhor que nem venham. Não faço ideia do que tinha em mente quando escreveu estes versos. Em dezembro eu não sabia, em abril, tampouco. Mas essa carta keatsiana, também dizia que a poesia deve surpreender por um leve excesso e não por sua singularidade. Ela deve espantar o Leitor como uma verbalização dos mais elevados pensamentos e assemelhar-se quase a uma lembrança. Sei que ele escreveu isso em 1818 mas não pude fazer outra coisa se não 'me apropriar' (viu o que tenho de fazer para sobreviver? Viver dos outros, um mero parasita) dessas palavras, pois, elas descrevem de algum modo a sensação ao ler. A melodia da canção partiu de uma tentativa de transcrever. Essa inversão, por assim dizer, deve ser um tipo marco também. 
       Se em Dádiva, por exemplo, eu tentava emular palavras que você poderia ter dito, como o espírito se tivesse separado do corpo por uma vontade forte o bastante para ir buscá-las, ikiryou, aqui, as palavras e verdades são tuas e eu, só cantei este derradeiro jardim, por você ter dito que esqueceu como se faz. Um amém para Chris Martin, que disse que velhos amigos não tem fim.

Beleza Parasita (2019)
Letra: Fabíola Passos Almeida

Música: Thales Salgado

Aprofundar raízes
Imobilidade
Mergulhar no solo
Responsabilidade
Confundir-se com a terra
Indiferenciar

Buscar seiva
Alimentação
Acompanhar a paisagem
Contemplação
Atravessar estações
Colheita

Permanecer no jardim
Monotonia
Abraçar um tronco
Beleza parasita



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