quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Volta

"Toda a gente tem um mundo secreto dentro de si. Toda a gente no mundo. Toda a gente mesmo. Podem ser as pessoas mais aborrecidas ou chatas por fora, mas dentro delas têm mundos inimagináveis, magníficos, maravilhosos, estúpidos e incríveis. E não é apenas um mundo, são centenas deles. Milhares até." Neil Gaiman, Sandman vol.5 - Um Jogo de Você

Terça-feira, 3 de julho de 2007 as 16h36

"Volte aqui, querido.
-Eu estou mandando, volte já aqui!
Quem você pensa que é? Aparece só quando eu estou na cama, fica me perturbando a noite toda, por diversas vezes não me deixa dormir. Quando eu acordo, você já se foi, e não deixa nenhum rastro de que passou por aqui. Nem um bilhete, nem sinal, nada. Sabe, isso me cansa as vezes.
E quando eu te chamo e você não aparece? Chego a ficar preocupada!
Você e seus surtos... Te acho muito temperamental sabia?
Eu acho que eu vou começar a te dar obrigações, quem sabe assim você se torna mais presente em minha vida. Olha, eu não sei viver sem você!
Hoje mesmo, eu estava lembrando... Quantas coisas fantásticas nós já fizemos juntos! Se bobear, algum dia tudo virará um livro.
Ultimamente, nossos momentos juntos são tão curtos, tão mascarados, aposto que você nem reparou como eu adoro estar com você. Aposto também que você não se importa tanto assim comigo, nem a metade do que eu me importo com você.
Você anda muito preocupado com os outros, visita com regularidade outras pessoas... Duvido que você não tenha se apaixonado por outra e, por isso, me abandonou. Mas me diga, o que ela tem que eu não tenho? Quantas vezes você me pediu pra fazer alguma coisa e eu a fiz, do jeitinho que você me pediu? Quantas vezes você assoprou em meus ouvidos, doces encantos que me faziam devanear pelos mais belos lugares e situações?
Alguma vez eu te "deixei na mão" por acaso? Não, nunca! Mas você sim. Ah, por favor volte! Eu lhe suplico, do fundo do meu coração!
Por favor, volte a ficar do meu lado, volte a me confortar.
Oh, por favor Inspiração, eu lhe suplico, volte logo! Eu sinto muito a sua falta..."

A música:
  

Sua história:
Vendo o caos dos cadernos, foi categórica: - você devia ter um moleskine!
  Ao ler o texto pensei no caminho traçado para alcança-lo: Passar um décimo de segundo a mais com a lista de chamada para cuidadosamente copiar as treze letras necessárias para a formação das três palavras que buscava. Terríveis grades impostas pela realidade! Possuísse os olhos de um shinigami nada disso teria sido necessário. É bem verdade, poderia ter sido pior, estivesse em um ambiente em que ninguém soubesse o nome de ninguém teria precisado observar cuidadosamente a altura que a dona de dourados fios escrevia e entre o eixo das ordenadas abcissas, cartesianamente, obter um nome-próprio. Então alguém diria, não seria mais fácil simplesmente ir até a pessoa e se apresentar formalmente? Aparentemente, sim. De todo modo, engendrar essa busca dentro de convenções sociais não me soava aprazível.
         Supunha, intuitivamente, que ela escrevia, e encontrar um blog em seu nome fez com que eu me demorasse em cada uma de suas palavras antes mesmo de trocarmos qualquer palavra pessoalmente, isso viria a ocorrer depois. Olhando em retrospecto - pode ser me tenha chamado atenção o fato de Cibele Ventura ter escrito aquela postagem no ano de 2007, mesmo período em que estava eu a compor as primeiras canções da Falsa Modéstia. A personificação da "Inspiração" como uma personalidade temperamental praticamente autocentrada me chamara a atenção. Sabe aquele momento em que você pensa 'pudera eu escrever algo assim?' era a minha situação, isso me incentivou a pensar em adaptar o texto em uma melodia. Conversando com a autora soube que ela não pensara em nenhum ritmo específico, tampouco imaginara musicar, em virtude disso me deu liberdade criativa. O que me levou a esses versos:


         Encontrar as ideias melódicas me tomou cerca de oito meses, a indecisão maior era como dar forma a canção. Debruçaria sobre Beatles, Beach Boys, Doors, Dylan, Cash, Stones, Floyd na procura de algo que sintonizasse com os gostos dela? Não seria efetivo. No período prolífico de composição, chegaram a pedir que compusesse músicas que soassem de Barão Vermelho à Br'oz, e sinto que não alcancei nada parecido; O resultado final soa... indefinido até para mim. Afirmo, não soava como as composições do período em que a Falsa Modéstia esteve em atividade, estaria eu copiando de algum lugar? Quem ouvir dirá, o resultado final foi o que foi. Houve poucas alterações de versos, como pode ser comprovado na transcrição dos versos gravados:

Volta (2011)

Na cama ouço teus sussurros
Se desperto te aguardo
Quase nunca você vem
E há tempos que já nem
Dedica um tempo, todo seu, para mim

Tudo o que fizemos
Quanto importa pra você?
Na certa estará preso 
A afagos de alguéns
Será que não mais
Minha poesia vai satisfazer?

Deixa de lado suas outras paixões
E vem outra vez...
Você há de voltar
Mate a falta de você
Inspiração

Talvez não lhe apraza mais as páginas
De imaginários livros que fizemos
Sem você aqui nem mesmo as ridículas
Cartas de amor vão viver

Deixa de lado suas outras paixões
E vem outra vez...
Você há de voltar
Mate a falta de você
Inspiração

Consegui o autógrafo!
         Cheguei a versionar pelo menos mais dois outros textos de Cibele e, até hoje, não foram musicados. Considerando o fato de estar a viver um hiato criativo há cerca de mil dias, imagino que a situação não será alterada tão cedo. Para além disso, ter contato com tais palavras impulsionou minha busca por "melhorar meu jogo composicional" e isso não pode me ser tirado. No ano de 2011, terminei por batizar minha demo como "Belaventura". De suas onze canções, sete são parcerias com pessoas e
métodos distintos. Entre elas, Falta, tema da postagem da semana passada, por exemplo. Dentre minhas inspirações para a criação desse blog, estão os Venâncios, o blog da atriz Maureen Miranda, A Máquina de Caminhar de Cristovão Tezza, o podcast Zing! nº40 e, como não poderia deixar de ser, o blog Where is Mind? dessa entidade conhecida virtualmente como "o oposto", certa vez afirmaram que "ela tinha na força dos dedos o fogo da palavra certeira que fere e cura os corações dos poetas" que descrição melhor faria eu? Penso para onde foram suas palavras,  quem sabe sua mente esteja projetada astralmente pelo mundo espelhado do mago supremo, como a minha esteve hoje. Somente os tolos são escravizados pelo tempo e espaço, quem sabe o que o futuro trará provavelmente virá com os gatos, enfim!

Esboço de capa para a demo de 2011 Belaventura e suas faixas.


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