quinta-feira, 9 de março de 2017

Constelações - Sesc Santana

Foto: Divulgação - Sesc Santana

"Não serei seu
você não será minha?
Serei sempre só
você sempre sozinha?
Ou de outro modo
muda-se a crença
A gente se junta
e dança na diferença"
Grafite Diamante - Lenine


      O ponto mais alto de Constelações é instigar reflexões existenciais por meio da simplicidade. O ponto de convergência entre a cosmóloga Marianne e o apicultor Roland é a diferença. Quando pensamos numa escala macro podemos lembrar a frase de Gessinger: "a diferença é o que temos em comum". O texto de Nick Payne se apoia na atração de iguais e opostos para se desenrolar em meio ao multiverso.
     E se, em lugar de Lenine, eu tivesse começado este texto com What If da Coldplay? Talvez eu o tenha feito num universo paralelo, e você, leitora ou leitor, tenha se cansado do texto antes do fim do primeiro parágrafo. Por Zeus! Não pense que estou a zombar de ti, consideremos brevemente o seguinte caso. Uma psicóloga e um professor de português decidem ir ao cinema juntos pela primeira vez, compram a pipoca e aproveitam os prazeres do lugar-marcado. Em meio à ficção o que acontece?
1. Ela decide ficar com toda a pipoca.
2. Ele dorme o filme inteiro.
3. Ambos esquecem da tela quando os lábios se encontram.
4. Ela consulta o celular esperando palavra do crush distante.
5. Ele é gay e só procura uma amizade.
6. Ela decide não querer mais sair com ele.
7. Outra opção escolhida por você.
      Diferente dos livros-jogo da Ediouro, em Constelações, todas as opções podem estar ocorrendo ao mesmo tempo e esses bilhões de possibilidades fascinam. A peça se torna um jogo de identificação, a cada flash somos tomados por uma sucessão de acontecimentos e nossa memória seletiva se encarregará de criar sentido para todas as histórias. Qual o enredo tecido? Há uma tentativa de segurança pelo conceito de um Ser permanente, não importa em qual das linhas paralelas Marianne estará: sua fixação pela ideia da impossibilidade de lamber os cotovelos será constante. Assim como para Roland melhor seria que os humanos tivessem sentido concreto como as abelhas das colônias, a objetividade o ancora a qualquer realidade. Independente do desenrolar, somos capazes de vivenciar apenas um resultado de cada uma de nossas ações, a ficção torna possível enxergar além, enquanto o casal se encontra, desencontra e estrelas explodem ao redor.

     Talvez, mais fácil fosse simplesmente copiar a frase presente no programa da peça: Não existe uma explicação lógica. E se, for mais que cósmica teoria? E se.

Ficha técnica:
Texto: Nick Payne.
Tradução: Marcos Daud.
Direção: Ulysses Cruz.
Assistente de direção: Leonardo Bertholini.
Elenco: Marília Gabriela e Caco Ciocler. Sergio Mastropasqua (alternante).
Cenário: Verônica Valle.
Figurino: Theodoro Cochrane.
Trilha: Composta Miguel Briamonte.
Iluminação: Domingos Quintiliano.
Cenotécnico: FCR/Rossi.
Produção: Morente Forte.
Realização: Sesc SP

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