domingo, 28 de janeiro de 2018

Depois de Tanto Tempo: Memórias Distantes

E depois de tanto tempo eu retornei a sua ligação.
Você me disse "Alô" e disse que não saberia o que dizer
E depois de tanto tempo eu lembro do que eu disse a você:
"Se o mundo todo está perdido, que mal tem a gente se perder?"
E depois de tanto tempo... você me disse que gostou do que escrevi 
E para eu não seguir o que senti, você me disse adeus disse que era pra sempre 
Depois de Tanto Tempo, 2008




         Que Depois de Tanto Tempo surja antes de Memórias Distantes é um pequeno anacronismo já que os versos finais da composição foram pensados apenas em 2008, ano seguinte à composição. Ainda assim, as ideias surgiram juntas. Duas composições interligadas em conceito e melodia e em que não há receio em trabalhar com a simplicidade. 

Foto: Valentin Gladyshev (iStock Photo)

CENTRO DA CIDADE DE ARUJÁ
ENTRE AGOSTO E OUTUBRO DE 2007
"Precisamos ter uma música com assobio! Algo como Patience do Guns. Que fosse pra cima, sabe? As músicas felizes são as que mais gosto de ouvir." Bruno Oliveira



Memórias Distantes (2007)

Se eu escrevesse uma canção
Não me leve a mal
Sei não seria grande coisa
Com as palavras emprestadas de algum lugar
E uma melodia tolamente alegre
Se eu trouxesse do futuro um dia qualquer
E embrulhasse pra presente
Eu te daria pra fazer você sorrir
E sentir eternamente

Por você não seria exagero
Eu faria com prazer
Mas se tudo der errado
Amor, tente me entender

Memórias tão distantes
Não sou mais como antes
Como poderia ser?
Você está mudada
Isso não muda nada
Eu daria a vida por você

Se eu cruzasse todo o mar
Para te encontrar
Num barco guiado ao acaso
Eu chegaria antes de você pensar
Meu lugar é a seu lado

MEMÓRIAS DISTANTES

         Qual a gênese das canções alegres? Quando conheci a cantautora Roberta Campos foi uma das perguntas que tive tempo de fazer e acabei por receber uma resposta num riso misterioso. Em que lugar se esconde o sol sem dó a cair em mim? Rés do chão. Canções feitas lá perto de um ribeiro em que seguia passos? Enfim, elucubrações avulsas enquanto procuro uma maneira de iniciar esse texto... Não vá embora! Passemos ao segundo parágrafo e tentarei ser mais direto.
         Levei quase três anos pensando em tudo o que levou às letras das primeiras demos da banda Falsa Modéstia. Por serem as primeiras composições havia uma fluidez. Também, pela primeira vez, não havia medo de expressar as mensagens. Pessoalmente, acho esse um estágio complicado de alcançar. Há uma vergonha constante das palavras e dos sons: será que a pessoa a quem se destinam os versos gostará? Será que meus amigos, colegas de banda irão querer ensaiar essas músicas?
Tentei deixar as inseguranças de lado naquele momento e compor uma canção que pudesse manter o assobio por isso me voltei aos tons maiores, num movimento significativo. Um Caminho para o Céu, Ilusão, Madrugada, Cantillena Sant'Anna, Um Conto no Jardim, Para Ela. O que compunha tinha uma predominância de tons menores, resultando canções tristes - mais tarde eu passaria a usar o termo contemplativo de forma recorrente - mas honestas dentro do que eu propunha aos dezessete anos.
       A forma que encontrei para abordar a letra foi coloca-la como eu não estivesse ali. Descrever como seria se eu escrevesse uma canção, e ela saísse tolamente alegre. A metalinguagem prossegue com a questão das "palavras emprestadas de algum lugar", algo que ocorrre, literalmente, no refrão. "Daria a vida por você" era a minha forma de mencionar a balada I Could Die for You dos Red Hot Chili Peppers. Ainda que bem longe da desenvoltura dos acordes fruscianteanos em 2004 eu tentara tocar uma versão simplificada dela. Encapsulei esse evento em minha própria letra.
      42 anos anos antes de mim, ainda que em outro contexto, Paul McCartney já professava "You don't look different, but you have changed" em I'm Looking Through You. Em Memórias Distantes a mudança não é razão para insatisfação e, sim, as portas para a possível reconciliação ainda que sob outras configurações. Ficções pueris.
Ainda assim, me lembro de Fabio no Encontro das Nações em 2009 anunciando ao público que faríamos uma canção agitada para que dançassem. Ver algumas pessoas o fazerem foi uma sensação estranha. Você verte lágrima em canção até o ponto em que a razão das lágrimas se desata da letra, e fica fora do resumo.

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