sábado, 9 de maio de 2020

Canção para ti


"Não importa o quanto alcançamos. Se você é um escalador, sempre haverá outra montanha. Eles tiram fotos dos escaladores no topo de uma montanha. Eles estão sorrindo, extasiados, triunfantes. Não tiram fotos durante o trajeto, afinal, quem quer lembrar o resto daquilo? Nos esforçamos por necessidade, não por gostarmos. A implacável escalada, a dor e a angústia de elevar o nível. Ninguém fotografa isso. Ninguém quer se lembrar. Queremos recordas apenas a vista do topo. O fôlego roubado pelo topo do mundo. Isso é o que nos mantém escalando. E dor vale a pena. Isso é o mais louco. Tudo valeria por isso." Grey, Meredith. Grey’s Anatomy s06e17 – Roteiro por Debora Cahn
Foto inspirada em Saudade (1899), de Almeida Júnior.
Para um trabalho solicitado pela pedagoga Marize Manopelli, em 2007.


Canção para ti (2008)
Composição: Thales Salgado

Quanto eu Canto a Ela?
E quanto ela suspira?
Quando é que a faço
Suspirar pra mim.

O sentimento que se julga amor
Foi feito para ela
Nessa necessidade de
Sentir o que eu não posso
E que aparentemente
Poderia ter um fim

Deusa de minhas palavras
com seu olhar de mistério
Que me leva leve
Em fossas abissais

Quantas palavras
Ainda me restam pra ti?
Quem pode me dizer,
Como fazer resistir?
Quantos sonhos,
Ainda terminam em ti?
Quem saberia dizer?
Sei, você entende...
Hoje adoro amar a ti"


      Há doze anos e dois dias, por volta das 15h56, digitei a letra dessa composição e encaminhei à algumas pessoas via e-mail. Nelas eu dizia: “Acima a letra da nova música, assim que houver gravação lhe enviarei. Obrigado pela atenção.”Contava eu dezoito anos e cinco meses. Tomo então minhas próprias palavras, rememorando um par de anos depois, em um documento em que fiz um resumo das composições que tinha em 01/10/2010:
“Fiz a melodia pensando em “A flor da pele” do Zeca Baleiro. Tinha ganhado de meu pai o DVD Líricas. Tempos depois quando compus o solo o fiz pensando nos solos de Augusto Licks no “Filmes de Guerra, Canções de Amor” do Engenheiros. Quando ouviu a gravação, Fabio Kulakauskas me disse: ‘Cara, você está muito à frente, não precisa mais de nós’.”
      Que eu fosse capaz de fazer algumas sobreposições de áudio simples não significavam nada concreto, realmente. O lado ruim de meu eu ter feito uma descrição tão sucinta, é o quanto se esvaiu: onde eu ouvira a expressão “fossas abissais”? Seja onde for, deve ter causado impressão forte o bastante para que eu a quisesse inserir em um verso. O “leva leve” já demonstrava o apreço por jogos de palavras, aliterações. Composições anteriores e que já estão no blog, tais Para Contato (Marte) já deixam isso claro.

      Algo também interessante no anexo do e-mail mencionado no primeiro parágrafo, é que ele registrava a composição como 16ª faixa e não como a faixa 2 do “segundo álbum”. Vou além, um documento com as letras de músicas datando 27/06/2009, inclusive, nem refere a cada um dos conjuntos com um título. Ou seja, o formato em que me acostumei a mostrar, inclusive aqui no blog, como pode ser visto no texto de 2017: A história até agora, foi desenvolvido paulatinamente: A medida em que surgiam novas composições e elas, ainda que não apresentassem alterações estruturais ou melódicas gritantes, tivessem relação com outros temas ou acontecimentos cotidianos. 

     Dizem que, para ser universal, deve-se começar por falar da própria aldeia (atribuem à Tolstoi, no entanto, não faço ideia de onde pode ser encontrada, portanto, divirjo, mestre!). Há sim, o macro, mas nunca estive conectado o bastante a ele para que afetasse diretamente minha escrita, talvez por obtusidade. A questão é, ainda que existam os registros – e faço questão de manter a gravação feita naquele período com suas limitações de equipamento – seus significados acabam sendo, quase sempre, recriados com o tempo. Quanto? Varia muito de acordo com a canção.

     Diria Dumbledore: Coisa misteriosa, o tempo. Poderoso e... quando interferido, perigoso. Tentar refazer os passos das composições, muitas vezes é um beco sem saída. Uma soma muito, muito, muito maior do que as partes, as mentiras da arte. HG

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