sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Que palavras atingem o poeta?

“Meu sincero desejo é para que pessoas sejam capazes de cultivar um pouco mais de licença para criar em suas próprias vidas. Eu sinceramente quero isso para todos. Entendo que haja considerações quanto ao tempo – as pessoas olham para mim e pensam que eu trabalho duro demais, talvez por ser inusual em termos da concepção das pessoas sobre um músico de rock, que eu teria uma carga horário de trabalho normal. Mas eu acredito que organizar tempo para gastar em um estado criativo – especialmente quando vejo quanto tempo é gasto nos celulares – é algo que você pode fazer todos os dias. Acho que essa sugestão é valiosa mesmo para pessoas que fazem malabarismos com uma atordoadora carga de obrigações, com filhos, trabalho ou o que quer que seja importante em suas vidas. Mesmo se você puder encontrar apenas cinco minutos – não leva tanto tempo assim. É apenas uma questão de dizer a si mesmo que sua criação é OK, não importa qual seja.” – How to Write One Song (Como Compor Uma Música) p.21 – Jeff Tweedy, Dutton Books, 1ª edição (13 outubro 2020), tradução livre.
Ilustração por Isabella Proença


O presente é todo meu (Ou "Que palavras atingem o poeta?") – (2021)
Letra: Fabíola Passos Almeida
Música: Thales Salgado

No dia que você nasceu
Uma voz sussurrou
"Serás poeta do que não se diz"
E foi você quem escreveu

No dia em que voltei a existir
Um olho escutou
O que era oculto na escuridão
E foi você quem traduziu

No dia em que morri
Pernas alcançaram
O que era imobilidade gélida
E foi você quem correu

No dia em que ouso te escrever
Meus dedos dançam
Sob o privilégio agradecido
E é você quem avança

    Tinha 32 anos recém-feitos quando me deparei com estes versos pela primeira vez. De acordo com o aplicativo de troca de mensagens instantâneas, foram recebidos às 12h20. Faz pouco mais que um mês. Independente de eu ter lido na mesma hora, sei que por volta das 14h a melodia estava composta. Minha intenção foi retornar aos acordes de Um Conto no Jardim e emular o solo que compus aos 17 e que, até hoje, não apareceu neste blog. Não por ele ser meticuloso, virtuoso ou algo do gênero e sim por, 14 anos depois, ele ainda fazer sentido como uma das primeiras coisas que tenho registro de ter criado.

   Em 2013 eu já havia tentado algo similar ao tentar simular a melodia do refrão de Memories da Within Temptation no refrão de Todas as Cores que Você Quiser fazer com uma composição própria não só evita problemas legais imaginários como legitima a autorreferência, expediente que sempre admirei nas obras de outrem – muito provavelmente influenciado por Engenheiros do Hawaii.

   Quando conversei com a multiartista Isabella Proença acerca do que imaginava – ou não imaginava – para a ilustração, eu estava influenciado por um estudo que ela postara temporariamente aos fins de novembro.  Recordo ser uma personagem nas sombras com um foco de luz que me fez pensar que poderia representar uma ideia ou alguém tendo uma ideia. Havia uma sensação cósmica de grandeza no que não está presente. Ocorreu que a letra também a remeteu a iluminação e ela se decidiu por uma temática da relação entre estrelas e universo com nascer e morrer. Olhando para a ilustração, me pego pensando em qual a relação da personagem com os versos: ela personifica o eu-lírico ou é a destinatária? Pode ser tudo ao mesmo tempo.

   Pensando especificamente no último dia do ano é como ela estivesse recepcionando o novo em suas mãos.

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