domingo, 9 de agosto de 2020

Ofício das Horas

"Acho que nós precisamos ser instigados a valorizar as nossas vidas e eu procuro fazer isso com meus textos. Costumo usar uma boa metáfora que é a seguinte: sempre que compro uma peça de roupa, todas as outras passam a ser novas também. Pois, por causa dela eu arrumo todo o guarda-roupa para potencializar as combinações e assim todas passam a ser novas. Eu penso que a crônica ou o poema são como uma nova roupa que acabam remoçando todos os nossos pensamentos." - Fabrício Carpinejar em entrevista para a Contato VIP em fevereiro de 2016

Acervo de Renato Bicudo

Ofício das Horas (2019)
Letra: Renato Bicudo
Música: Thales Salgado

No lânguido dourado
Da tarde
Nas vésperas de minha reclusa
Solidão
Estão a mirar-me anjos e demônios
Uns querem-me em vida
Outros vaticinam Caronte
Levando em minhas mãos

Eu voo lépido para as estrelas
Talvez em Vênus esteja
Minha tão aspirada
Salvação


      Conheci o poeta Renato Bicudo em uma oficina com Carpinejar. Em sua autobiografia ele menciona que "Lê compulsivamente, muito mais do que escreve" interessante saber já que, acompanhando seu trabalho, noto, por vezes, uma série de criações diárias - descontextualizando um verso de Lin-Manuel Miranda: "Como você escreve como se estivesse ficando sem tempo?". 
     Compus a melodia para o poema reagindo à sua leitura, no mesmo dia ou no seguinte a sua publicação original em 23/07/2019 e só fui mostrar ao autor uma versão rudimentar alguns meses depois. Quando ele me disse que o poema é "como se fosse uma oração, uma súplica de alguém que busca um Porto Seguro, um amor, algo assim…". Para conhecer mais sobre sua obra, é possível ler alguns poemas e comprar seu Chá de lírio (editora Patuá), aqui.
    Há sempre algum receio ao versionar - sem permissão, obviamente - as palavras de outrem. A exemplo das canções compiladas em Nada Há de Novo Sob o Sol a maioria das  composições no Ikiryou EP tem sido, de algum modo, coletivas. Por mais que, em canções como Canto de duas cidades eu escreva e componha tudo, outras como Beleza Parasita tem letra de Fabíola Passos, Tudo outro agora conta com a letra de Anderson Bezerra e Silêncio foi feita baseada em um poema de Kariny Camargo. Mais que isso, futuras postagens pautadas nesse conceito que conheci na obra Kafka à Beira-mar de Haruki Murakami seguirão essa linha, como Concreto-confronto que tem a letra inspirada em um conto da atriz e poeta Daiany Pontes.
      Um ano após a composição é difícil precisar se eu vinha ouvindo algo da banda ZERØ,  de todo o modo, sempre que canto o trecho "eu voo lépido…" me vem a voz de seu vocalista: Guilherme Isnard. Sei que, em 2020, ouvi uma série de vezes o segundo álbum da banda Quinto Elemento, lançado em 2007, antes de realizar a gravação do que veio a se tornar o primeiro vídeo do @fmodestia para o IGTV  na série "Canto no jardim" (trocadilho com uma de minhas primeiras composições Um conto no jardim) Com os créditos a meu irmão Ulysses Salgado que enquadrou e dirigiu a gravação e a minha mãe Lúcia Salgado, dona do jardim e quem confeccionou a calça que estava usando.


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