sábado, 30 de julho de 2016

Fluxorama ou (Todo mundo é uma Ilha)

“Exercitar a si mesmo ao máximo, dentro de seus limites individuais: essa é a essência da corrida, e uma metáfora para a vida” Haruki Murakami, maratonista.
ANTES DOS ATOS

- Sim, creio será a melhor maneira de agir. Estarei no meio de um dos corredores aguardando a passagem de Ciocler, depois que os fãs mais afoitos o tiverem abordado vou me aproximar e fazer minha pergunta; Digo ao menos se deixarem algum espaço. Nunca estive numa noite de estreia. Quem sabe eu devesse falar com a Marjorie Estiano ou ainda Luiz Henrique Nogueira e a Juliana Galdino. Depois de conversar sobre as atuações e a peça em si acho estarei mais confortável para realizar minha pergunta. Estarei? Pensando bem não mais sei. Não conheço o trabalho de Jô Bilac quais são seus temas, sua abordagem? Quem é Monique Gardenberg e quais seus predicados como diretora? Como falar sobre autores que não conhecemos? Sinto como o grande Outro me negasse o direito ao não saber. Nemo tenetur se detegere! Maldita hora para não ter certezas, ou melhor: bendita! Ainda estou longe do Sesc Ipiranga e suponho a coragem até lá surja. A coragem surge ou é construída? Se fosse líquida bebê-la-ia? Há anos quero saber o que aconteceu com o Dr. Luís Camillo quando foi ao encontro de Dimas Bevilláqua no final da temporada d'A Cura. A série não voltaria nunca mais? Ai de mim! Triste destino que me foi atribuído em vida acompanhar tramas em aberto. Caco estava envolvido, ele, melhor do que ninguém, saberá cobrir com verniz de veracidade os boatos que rondaram o fim da série. No final das contas quem é que vai para um ponto meticulosamente pensando chegar a outro? O assunto definitivamente não é a série e meu nome nem mesmo é Frances!!!

As portas se abrem e ele, atônito, percebe estar na estação errada. Mal sabia ele: tinha embarcado na linha errada.

OS ATOS EM SI

...se começar a chorar aqui de repente vai manchar tudo e eu vou ficar horrível e só vou notar quando já estiver atravessado toda a avenida com cara de palhaça e ficar assim rindo com a cara borrada abraçando meus amigos que deixei de ver há muito tempo, mas isso agora nem faz diferença pois a cada encontro os aperto como se pudesse dissolvê-los em meus braços de tão forte o abraço, de tão forte que quero senti-los, de tão forte que tudo isso me toma, de tão forte que meus sentimentos me inundam, de tão forte que essa dor no meu peito explode como uma napalme nuclear, de tão afetuosa e de tão querendo e de tão absoluta essa loucura que é o amor... Juliana Galdino

Quem é o outro? Quem somos quando privados da interação com o outro? Privados da audição, estamos a sós com nossos gritos e idiossincrasias. Demandamos por atenção, queremos ser vitrines, disseminar preocupações, receios, anseios. Quanto nos permitimos abrir este espaço para o que está fora de nós?! Podemos, por vezes, apenas estar habituados a determinadas cadências, tons, flexões. AMANDA sofrendo de uma doença misteriosa decide manter a perda dos sentidos em segredo. A aterradora situação não a força a quebrar o ciclo. Sinais, palavra escrita? Nada! É preferível não abrir diálogo algum. Prosseguir o monólogo. Quem sabe dar-se conta de que essa escolha já fora tomada bem antes de o problema surgir. Ou não.

A pior coisa do mundo é morrer deprimido. Vale morrer de raiva, morrer de medo, morrer de rir, morrer de inveja, morrer de tesão, morrer de vergonha, morrer de dor de cabeça, morrer atravessado por um arpão...Pode. Pode tudo. Deprimido não. Luiz Henrique Nogueira

Meu amor, o que você faria se só te restasse um dia? Não. Algumas horas, minutos, segundos? E se o filme de sua vida fosse o retrato cínico do carma inexistente, resultado de nossa opressora liberdade? Há cheiro de morte e não se quer saber o gosto do sangue, nunca. A dor de LUIZ GUILHERME é ver se aproximar a última certeza. Ele, como o maluco beleza, imaginou que ela viria no meio do copo de uísque, ou teria sido conhaque desta vez? Certamente o brandy. Aquilo naquele instante não importava.  Ele, como muitos, pode se ter vestido dum manto de invencibilidade, o #nuncavaiacontecercomigo e quem há para dizer? Agora, unido com seu cavalo de aço reflete. Encontra humor. Melhor seria negar a dor. Ah! Se ele pudesse tomar apenas mais uma dose. Estamos anestesiados de nossas próprias tragédias ourobóricas.

A culpa não é sua, é um desgaste natural e tudo é descartável, incluindo você. Incluindo o que você sente. Pensa. Quer. Pode (...) Você pode, pode. E quem não pode? Se sacode onde? Como? Com que dinheiro? Você pode tudo tudo, só não pode arregar! Marjorie Estiano

No meio do caminho há asfalto. Nada mais. Pouco importam câmeras e transmissões. A multidão se projeta, alguns almejam assistir o beijo no piche quente... Padres irlandeses podem estar a espreita, mas os passos se sucedem. Há uma série de atos interrompidos no cotidiano, planos desfeitos. Inspira. A linha de chegada é um objetivo concreto, palpável. Expira Chegar. Vencer também não está em jogo e sim não deixar o corpo perder - os sentidos? a vida? - O início e o fim estão além do alcance de VALQUÍRIA. A vida é sempre, sempre percurso-travessia de datas-dias-pessoas-passos. Há asfalto no meio do caminho e, diria Gessinger, a única certeza é que o último dia de dezembro é sempre igual ao primeiro de janeiro.

o porco/ morrendo/ esquece o bicho que se apavora tanto/
esquece o grito do bicho que se apavora tanto/
esquece esse grito/ esse grito/
esquece esse grito de quem mesmo vivendo
na merda/ na lama/ quer ficar...
Caco Ciocler

Você pode pensar, jejuar ou esperar, no entanto, preso em um banheiro pode alcançar o nirvana? Sim?! Acrescente então uma série de ofídios com consciências singulares em sua cabeça, a existência se torna MEDUSA e o ato de meditar se torna uma impossibilidade prática. Afogamo-nos todos em informações de nossos pluripercursos. A busca pelo não-pensar é procurar o stop do pensamento que é dinâmico. Possuímos, enfim, um fio condutor ou tudo são tentativas de chegar ao fim? Cada monólogo suscita diálogos seminais. Expectativa de convergência dos solos, retrato de nossos tempos, assonância política. Fora Temer! roteiro-ator-inconsciente coletivo?. Se tudo é referencia, viciosos ciclos de inércia, eternos retornos, todos os pensamentos são presa de alguma besta.


Virá
Impávido que nem Muhammad Ali
Virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri
Virá que eu vi
Tranquilo e infalível como Bruce Lee
Virá que eu vi
O axé do afoxé Filhos de Gandhi
Virá
E aquilo que nesse momento se revelará aos povos
Surpreenderá a todos não por ser exótico
Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto
Quando terá sido o óbvio

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