quinta-feira, 14 de julho de 2016

O Dia Nunca Igual

ps: havia aberto uma página para escrever a você segunda. Só houve tempo para o título: “o dia nunca igual”. Não lembro o porquê de. - Kariny Cristina 11/07/2012

          Por vezes eram cartas entre Drummond e Mário. Dadas as devidas proporções, claro. Embora houvesse certo verniz de megalomania autodepreciativa. Por outros tempos era apenas o eterno retorno variando entre trezentos e sessenta e cinco dias - sim, há um despudor em citar Nietzsche sem entendê-lo de fato. N'algum lugar uma erupção solar causa uma tempestade geomagnética que passa despercebida. Noutro instante ela é Lenina mergulhada em soma para então sumir do alcance, dos olhos do radar. Hoje é silêncio. Desmaterializada não está: aporta na Terra Média e parece seguir os passos de Verne.
          Daquele indecifrável título erigi versos. Havia ali menções à Tropicália surgida em condução na rodovia Dutra, as cismas que a perseguiam, o atirar-se, O Rio de Janeiro - continuaria, ele, lindo? as Noites Brancas de Dostoiévsky, a pulsão de morte. Augusto dos Anjos,  a Casa Tomada de Cortázar. Tudo convergindo para o instante em que ela se torna Chaplin convocando para a união dos soldados em nome da democracia. Ideia eclipsada em busca de particularidades pessoais. Quanto disso permanece como reflexo das pessoas do agora, quatro anos depois? Algum tempo depois ele mesmo sintetizaria a confusão da esfínge:

Quem tu foi?
Quem tu és?
Ou serás?

Era novamente o dia nunca igual.

Uma melodia composta em uma afinação desconhecida por mim: CDGCEA. Algum tempo depois descobri poder ser utilizada, também, em um instrumento chamado Bandura! Nunca se sabe.




O Dia Nunca Igual (2012)

Acima de mim as àguas
Abaixo de mim a estrada
Ela no dia nunca igual
Resposta não lançada
Em solidão povoada
Goles de lírica ilusão

Os carinhos que estima são amargos
Tal a cisma insistente em achar paz
Ela trajando seu melhor sorriso
Atira-se ao Rio

Noites brancas são as tardes
As vezes a espera invade
A ânsia pelo doce final
Que quase sempre tarda
A alma já dourada
Ao gosto dos anjos do além-ser

Uma casa tomada por saudade
De uma ausente vestida de Paris
Em meio a marcha ela dirige-se aos soldados:
Unamo-nos por nós
Unamo-nos por nós
Unamo-nos

Nenhum comentário:

Postar um comentário