segunda-feira, 30 de abril de 2018

Lives - Daron Malakian and Scars On Broadway

"Eu ainda escrevo. Tenho muito material. Tenho uma namorada, com família. Eu ainda estive focado em música nos últimos anos. Eu fiz uma música com o Linkin Park há alguns anos, também. Quando algo vem ao meu caminho, eu faço, mas meu foco ainda é a escrita. Só aconteceu de eu não ter lançado nada, principalmente por estar incerto sobre o que estava ocorrendo com a System. Acabei sem hesitante. No entanto, me ocupo escrevendo. Sou o tipo de cara que, mesmo se ninguém ouvir o que faço, ainda me divirto escrevendo, então eu faço." Daron Malakian em entrevista à revista Rolling Stone, abril 2018.
– Cara, você já ouviu a música nova do Scars on Broadway? 
– Hmm, não sei se lembro dessa banda não.
– É a outra bandado Daron Malakian, o guitarrista do System...
– Ah! Agora eu lembro, já faz uns anos, né?
– Sim, mas dá só uma olhada nisso.

Ele pega o celular, e em um movimento rápido ativa a visualização horizontal, pede que o amigo dê play para não perder nada.

 

– Esse cara é muito louco, adorei o visual e as danças.
– Isso que estou falando, estou mostrando a todos que encontro. Embora, a recepção ao novo material não parece tão partilhada assim, será que em 2008 foi assim?
– Provavelmente, eu também ouvia muito o som desses caras na época escolar mas não segui acompanhando. Nem sei como você ainda vai atrás. De onde vem essa vontade, interesse, curiosidade, não preguiça?
– Acho as melodias criativas, o peso das guitarras tem classe e aquele charme nas referências harmônicas do Oriente Médio. Tudo soa único e ao mesmo tempo familiar. Além do mais, há aquela mescla entre o surrealismo non-sense e o posicionamento político. Eu até tentei fazer uma instrumental com essa influência, ouve isso:



– Acho que se você colocasse umas vocalizações à la Serj, seria mais fácil a conexão.
– Até pensei em fazer algo assim, mas quando gravei não tinha conseguido fazer. Os anos foram passando e eu não revisitei o material, enfim.
– É, até gostei da música, mas você entrou num ponto sobre o Daron que me chamou a atenção. Essa questão política é um ponto. Tomar partido, sabe? Em 24 de abril O Grande Mal completou 103 anos. As manifestações em memória continuam.
– O Daron falou numa entrevista para a Rolling Stone que sua ideia era fazer uma música animada para impulsionar a moral do povo armênio. Algo como "respeitemos os que morreram, mas muitos sobreviveram e quão longe chegaram."
– Em São Paulo mesmo, há milhares de armênios e descendentes. Minha mãe já trabalhou com um. Na real, nem sempre prestamos atenção às origens de quem nos rodeia. A Aracy Balabanian é uma atriz de origem armênia. Os pais dela vieram para cá fugindo daquele sofrimento...
– Quando olhamos assim realmente faz sentido que o Daron tenha se unido com o Linkin Park justamente para uma canção cuja letra dizia que "nós somos os afortunados que nunca encararam a arma da opressão".
– Já faz uns trinta anos que trocaram o nome da estação de Ponte Pequena para Armênia, você é jovem para lembrar disso, mas a ação foi em homenagem e agradecimento aos imigrantes armênios em São Paulo.
– Eu achei o clipe hipnotizante. Vai ter mais?
– Pelo que li, o Daron já estava com essas músicas gravadas desde 2012. Ele levou foi tempo para lançar, parece que foi sua experiência gravando todos os instrumentos.
– É meio o que o Serj fez para o Elect the Dead, não? Gosto da versatilidade desses caras, você deveria investir tempo em outros instrumentos também. Se ele tivesse lançado antes não ficaria essa impressão de vazio composicional tanto tempo.
– Na mesma entrevista que te falei, ele disse que esperou por não saber se o SOAD voltaria a gravar. A banda poderia aproveitar esse material. Algumas músicas do Dictator soam como System.
– Então a banda não volta? Não li nada sobre.
– Difícil dizer parece que no momento os quatro não chegaram a um acordo para se comprometer com esse evento. Tocar juntos é uma coisa,a banda não está brigada, não rolou uma  rusga ou coisa assim. Mas, preparar um álbum novo requer outra especie de compromisso e, atualmente, o Daron é quem está investido na ideia de compor/gravar. Os outros tem outras prioridades agora.
– Vai escrever sobre o Dictator quando o álbum sair?
– Está nos planos. Em 2018 acho que só falei de um álbum. Vamos ver no que dá. Por enquanto é difícil dizer qualquer coisa concreta.

domingo, 22 de abril de 2018

Podia ouvir Drexler

"Então, (sobre Despedir a los glaciares) eu diria que essa e uma das canções mais duras que já escrevi. Porque ela fala sobre uma coisa que já não tem solução, sobre o que vai embora e o que vai se derreter. Quando você perde algo ou uma pessoa é preciso dizer adeus, e não deixar que o medo e a dor façam você esquecer de que também é importante se despedir. Mas há muitos sentimentos ali." - Jorge Drexler em entrevista à Nathália Pandeló Corrêa, para o Tenho Mais Discos que Amigos.

Jorge Drexler em foto postada em sua página no Facebook
Guarulhos, 22 de abril de 2018

         Era ano do macaco a última vez que nos vimos. Nos conhecemos num ano da serpente então, se houver janelas de oportunidade instituídas pelo ano chinês, pode ser nos vejamos em 2025. Dias atrás eu estive num show do Jorge Drexler. Acho que te falei dele no mesmo período em que vimos o Kevin Johansen. Há alguns anos, o Moska me colocou na cabeça que, brasileiros, costumamos dar as costas para nossos hermanos. Passei a ouvir alguns de seus parceiros: Nano Stern, Pedro Aznar... Em conformidade com isso meu pai chegou uma vez me perguntando de um cara ouvido na rádio dizendo hay tantas cosas yo solo preciso dos, mi mi guitarra y vos. Ali conheci o trabalho desse uruguaio, acho que já te falei isso. Pra tentar complementar algo posso dizer que busco essa autossuficiencia. O violão e a voz nunca me bastaram, será que eu demonstrei?
         Mas eu estou escrevendo, pois, creio você podia ouvir Drexler, teria gostado dessa apresentação seja quando calcado no violão ou com a banda completa. Ele contou várias histórias e interagiu com o público sempre que pode. Se ouvir os álbuns você consegue captar o bom humor, enfim, a Casa Natura fica bem próxima ao metrô então não haveriam aquelas longas caminhadas que você acabava fazendo, lembra? Eu gostava de irmos fazendo nosso mapa sem o auxílio veicular. Estávamos sempre em movimento.
    Mais de uma das músicas remeteu a conversas nossas. A música de abertura fala sobre sermos todos pais, netos e bisnetos de imigrantes. Falávamos do resultado da mistura dos lisos cabelos indígenas com o orgulho alemão ou meu sobrenome português e a falta de acesso ao sobrenome espanhol por ausência de documentação comprobatória. Assim como aquela vez à Bragança, poderíamos ir ao Uruguai de ônibus. Já ouviu falar do Cabo Polônio? Ele leva doze segundos para a luz fazer a volta completa, imagina só andar nestas condições numa noite!.. É, estou falando em andar de novo né? Que cabeça a minha. Espera, posso mudar de assunto. O Tó Brandileone do 5 a Seco subiu ao palco também. Eles cantaram Todo se Transforma. É meio Lavoisier a ideia, embora eu tenha dificuldade com isso de "nada se perde" quando a transformação não é do meu agrado. Ainda assim, falando do show, ele me deu vontade de ver algum filme de Eric Rohmer. Sempre víamos filmes mais agitados. Era escolha ou imposição do cinema hollywoodiano? Até vimos longas franceses, japoneses, nunca eram a maioria, todavia.
    Teve algo dito, não recordo se antes ou depois de Pongamos que hablo de Martinez, relativo a essa questão com o tempo levado para agradecer/homenagear alguém ser imposto pelas próprias canções. Ele levou cerca de vinte e dois anos  para desabrochasse uma. No meu caso não levei tanto tempo assim mas é inconveniente mesmo assim, afinal, você já havia mudado de cidade. Custava ter conseguido versos três meses antes? O Carpinejar disse que se não esquecemos alguém é por não termos sido sinceros quando deveríamos, o que você acha? Ter usado nosso nomes verdadeiros naquele texto não significaria nada. Você já informara de sua vida nova no dia de Iemanjá. Tem uma outra música, ele diz que embora todos creiam ter inventado algo seguem sendo as mesmas canções. É o tipo de insight que eu não alcanço. Isso me leva a assistir esses artistas que contam com seu empenho e sua pluma voadora. Inspiração, projeção, um pouco dos dois, creio. Te indicaria ouvir Telefonia mas há mais de um ano não vejo seu nome nas chamadas recebidas, vou tentar amar a trama mais que o desenlace.
     Se você se permitiu chegar aqui, podia ouvir Drexler. 
Beijos,         

Palpitar

"A questão talvez não deva ser analisada na base do certo e do errado. Há escolhas erradas que produzem resultados satisfatórios e escolhas corretas que levam a resultados catastróficos." Haruki Murakami, O Elefante Desaparece.



Palpitar (2013)

Se pacto não há
Resta-me retratar
Teus rastros como um mural de Rivera
Tocar na sua dor
Com a pureza da chama
E se quiser que atire no poema
Pois a canção é tudo
E se há coração
Ainda vive em permanente assombro

Padam Padam
Havemos de amanhecer

Meus versos sufocados
A nossa treva brilha
Eu ouço vozes, serão armadilhas?
Ainda que mal respondas
Quero tuas verdades
Pois que ninguém me rouba tua ausência!
Meus lamentos à parte
O que me importa a aurora,
Se você for mar aonde anda a onda?

Padam Padam
Havemos de amanhecer
Mas só no dia nunca igual

       Uma composição referencial. O padrão circular da melodia surgiu de uma incapacidade em sair do padrão tocado. Dessa maneira, a intenção foi tentar modular a voz inspirado em Hélio Flanders. A esta altura o terceiro álbum da Vanguart já havia saído? Se não, a proximidade com o fato tornava a ansiedade palpável. Edith Piaf possui uma famosa canção com Padam, meu uso advém da canção homônima de Benjamin Biolay. Há menções a Truth de Alexander Ebert, o que coloca esta composição na espera pelo fim de Breaking Bad. O solo de guitarra evoca brevemente John Mayer em sua fase Continuum. As conversas com minha amiga Kariny traziam poemas e, assim, algo de Quintana caiu na letra. O que trouxe Diego Rivera para a canção?

sábado, 14 de abril de 2018

A Idade da Alma

"Os objetivos que perseguimos são sempre velados. Uma garota que anseia pelo casamento anseia por algo do qual nada sabe. O garoto que intensamente deseja a fama não tem ideia do que ela seja. Aquilo que dá a cada um de nossos movimentos seu significado é sempre totalmente desconhecida para nós." - Milan Kundera, A Insustentável Leveza do Ser.


Funerais e Sepultura e o Modo de Chorar os seus Defuntos
 Jean de Léry

A Idade da Alma (2013)

Mas era outono:
Palavras em gravidade
Amargas horas sôfregas de Ser
Na chuva, sem nome
Sobrevoo a cidade
Uma sucessão de silêncios azuis
Tuas velas, tão serenas
Adornavam nuvens de Razão

A Idade da Alma desafia Cronos
Sem lastros transmuta a seu bel prazer
E o que é preciso é aceitar
O que é preciso?

Mas já me enganara:
Estranho na própria rota
Desenho sons em gotas de sabão
Nas trevas, sementes
Florescem minha tragédia
Indigno do tento almejar
Tantas pressas ladeavam!
Claro o pensar mas turva a ação;