quinta-feira, 8 de junho de 2017

Falsa Modéstia, a banda

"Na estação de trem
Um gosto de lágrima no rosto
Palavras murmuradas 
Que eu quase nem ouço 
Em algum lugar no tempo 
Nós ainda estamos juntos 
Em algum lugar 
Ainda estamos juntos 
Não guarde mágoa de mim!"
Biquíni Cavadão

Fábio Kulakauskas, Thales Salgado, Bruno Oliveira e Bruno Cortez no Encontro das Nações de Arujá em 2008

2007 – Falsa Modéstia
13. Para Ela

    Quem disse que "recordar é viver" estava certo. Ou quase. Talvez recordemos justamente por estar vivos. A vida permite o recordar. Argumente que "nem todas as pessoas são capazes deste feito" e você, leitora ou leitor de percepção aguçada, também estará certa (o), restando a mim, apenas o contra-argumento: apenas cerca de 4, 815% da população não possui essa capacidade e iria além! 1, 623% se encontra no lado das memórias prodigiosas. A pesquisa na qual baseio estes resultados foi realizada com um grupo aleatório de 42 pessoas ao redor do globo... sim. Concordo contigo. Não é uma amostragem significativa, isso invalida o primeiro parágrafo? Na dúvida, melhor passar ao segundo.
         Salvo melhor juízo, quando vim a conhecer o Thales a Falsa Modéstia já não existia. Era uma série de conceitos; Lembro de um que ele atribuía ao sr. Fabio Kulakauskas. Seriam dois zeros, mas unidos formariam o símbolo do infinito. Era sobre tentar passar uma mensagem, talvez, contra os vazios existenciais. Talvez. Nunca chegaram a usar o conceito. Quando você tem dezessete ou dezoito anos uma torrente criativa o conduz a mares nunca navegados. Some dez anos e, você pode estar à deriva, lutando para manter a criatividade em outros meios, sejam textos acadêmicos, vídeos institucionais, ou fotos. Pode até ser, não exista realmente uma "luta". As coisas se transformam e isso não é bom nem mau. Simplesmente acontece. Nunca conheci todos os integrantes para saber suas histórias. Isso pode me tornar tanto um mau jornalista quanto um defensor de Renato Russo, afinal, todos tem suas próprias razões.

Primeira edição da revista Gente S/A

         No decorrer de quase um ano em que esse blog está no ar, eu, Luís Jorge Barros, tive a oportunidade de escrever algumas vezes acerca de algumas músicas. Àqueles perguntando qual o sentido deste espaço, talvez, seja esse: manter vivas as histórias. Thales tem empreendido, sem muito sucesso devo admitir, uma pesquisa acerca da relação entre a geografia e a música. É de seu agrado quantificar até que ponto ele ter sido criado na cidade de Arujá influenciou seu modo de pensar e, por extensão, suas composições. Da mesma forma que o pelotense Vitor Ramil tem em desenvolvimento constante sua Estética do Frio (fundamentada em rigor, profundidade, clareza, concisão, pureza, leveza e melancolia) ele procura saber como "acabou nisso", essa obsessão em tornar a vida em canção, mesmo que, "os sons da cabeça não tenham encontrado a melhor tradução", palavras dele que replico aqui.
         Enquanto editor, sugeri a ele colocar o marcador "Arujá" para as composições feitas nessa cidade. Na lista que encabeça esta postagem então links aos textos de dez canções entre as primeiras do grupo. Entre as quatro pendentes (Resolva com os Profetas, Memórias Distantes, Cantillena Sant'Anna e Para Contato - Marte) há parcerias entre os integrantes e músicas solo. Talvez, olhando agora, não houvesse unidade. Certamente, havia uma vontade de traduzir uma identidade coletiva. "Se vi mais longe foi por estar sobre os ombros de gigantes" tomo emprestada a frase de Newton como um pilar de acontecimentos que não vivi. Ao ler os textos de origem das canções, fica a certeza de que, havia sempre um senso de pergunta e resposta sutil entre os integrantes. Uma retroalimentação positiva. Eles enxergavam assim à época? Pode ser que não, mas havia.

Foto da apresentação no Encontro das Nações de Arujá em 2008
         Tendo em vista a distância entre intenção e gesto, tomei a liberdade de inserir nesse texto os vídeos do Yeld Music Live Festival, ocorrido na cidade de Guarulhos, por serem, até onde pude apurar, os únicos registros que se tem notícia da banda. O agradecimento fica para Bruno Cortez, não fosse ele, é bem provável ninguém os teria. Mais que isso, o upload ter sido feito naquele período torna o registro melhor. E, quando digo, melhor, afirmo como registro histórico. No sentido qualitativo, tendo a concordar com Ivan Carolino em um dos comentários "ao vivo estava um pouco melhor". Essa era a vida, senhoras e senhores! Como não seriam gravações atuais? Por vezes, até a imaginação se perde aqui: um teatro, os instrumentos acústicos que povoaram o imaginário da geração crescida nos anos 90. Talvez a banda no meio do público, velas, panos pretos reverenciando a natureza trágica das canções esperando a chegada do sol após dez anos de silêncios... Seria possível? Tomando as palavras de Lô Borges: ou será que é tarde demais?





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