quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Nebulosa

"As coisas, por exemplo, começavam todas pelo princípio e acabavam no final. Por isso, nesse tempo, para ele tinha sido uma grande surpresa, e nunca mais as esquecera, umas declarações do cineasta Godard onde dizia que gostava de entrar nas salas de cinema sem saber quando é que o filme tinha começado, entrar ao acaso em qualquer sequência, e ir-se embora antes do filme ter terminado. Seguramente, Godard não acreditava nos argumentos. E possivelmente tinha razão. Não era nada claro que qualquer fragmento da nossa vida fosse precisamente uma história fechada, com um argumento, com princípio e com fim." - Enrique Vila-Matas, Doutor Pasavento



Nebulosa (2013)
Letra e Música: Thales Salgado

Espaço sem limites
Corpos celestes se agrupam
E os mistérios dos sentidos
São fundados

Deuses agrupam astros
Com sucessivos movimentos
Tão precisos tal gênios
Renascentistas

A Dália Negra encara o Lírio
Será uma miragem?
Rastros de uma nebulosa
A Pairar na paisagem
Vejo o futuro rasgando
Às margens do Sena
(Na falta de um poema)

Sonhos são destino
Mesmo que em vida
Estejamos em estado
De constante despedida

As palavras inertes
Emergem da noite
Constituindo vestes
Que acomodam os instintos

A Dália Negra no Segundo
Círculo do Inferno
O Lírio nômade aprecia
O silêncio dos dias
A cordilheira evanesce
Tão logo se pisa
E a alma nem realiza
Nossas sombras projetam nas nuvens
A tormenta no passeio azul
E os Kilometros Contra a Corrente
Pois que a vida está em outro lugar...

A Dália Negra vê o Lírio
E pensa ser miragem
A nebulosa esconde as pétalas
Por toda a parte
Na pedra do Arpoador
A vista nunca alcança a paz
Nossas escoras de pequenos cais.



  • A vida está em outro lugar - Milan Kundera
  • Cordilheira - Daniel Galera
  • Inferno - Dan Brown
  • Todos os fogos o fogo - Júlio Cortázar
        Estes são alguns dos livros que tinha em mente no momento em que escrevi esta letra. Seria certamente culto colocar entre eles "A Divina Comédia" de Dante, como fonte. Seria uma inverdade. Não me ufano de ter lido Dante no original. Conheci seu trabalho diluído em referências. Fosse na descrição do inferno de Masami Kurumada em sua saga de Hades ou, no então, livro mais recente de Dan Brown. Também não tome a "Dália Negra" nos versos como menção a atriz Elizabeth Short (ou mesmo o filme de Brian de Palma) desconheço-os para além de seus famosos nomes. Esta foi uma das primeiras composições feitas em Guarulhos e a intenção era de que o que eu fizesse após chegar na cidade não fosse preso a qualquer amarra autoimposta no período em Arujá. 
          
         Há no centro do texto uma série de trajetos geográficos, partindo do cenário espacial para a França, o Rio de Janeiro... paisagens apenas sugeridas para outros contextos. Mesmo o Passeio Azul. é lugar inventado por Kariny em seu período pré-Nova Zelândia. Ou seja, há também autorreferência, ela só passaria a crescer daí para frente. A letra fala por si só, ou não? Você leitor, se chegou a este breve segundo parágrafo diga o que achou da letra nos comentários. A demo gravada no quarto da mudança recém feita. E já vão aí cinco anos! Irreal? Onírica? Talvez caiba uma citação ao filme de Richard Linklater, Waking Life:

“Dizem que os sonhos somente são reais enquanto duram. Não podemos dizer isso da vida? Muitos de nós estão mapeando a relação mente-corpo dos sonhos. Somos chamados onironautas, exploradores do mundo onírico. Há dois estados opostos de consciência, que de modo algum se opõem. Na vida desperta, o sistema nervoso inibe a vivacidade das recordações. É coerente com a evolução. Seria pouco eficiente se um predador pudesse ser confundido com a lembrança de um outro e vice-versa. Se a lembrança de um predador gerasse uma imagem perceptiva, fugiríamos quando tivéssemos um pensamento amedrontador."

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