terça-feira, 18 de outubro de 2016

Muito mais que o amor no Sesc Bom Retiro

Semáforo cruzado adentrei o bar. Peço ao garçom uma Cachaça. A TV capta a transmissão estrangeira do Miss Universe. Preciso de mais que isso Para Abrir os Olhos. Los Chicos de Ayer estão aqui, como estavam na noite anterior e na outra, eles surgem Nessa Cidade e sussuram "Engole", Como se fosse preciso dizer... Enquanto Isso na Lanchonete, sim, eu Sei Onde Você Está, não deixei de pensar No que a Gente Podia Ser. Mesmo noutro Hemisfério you would still Beloved. Mas divago. Na lanchonete você deve estar com algum Amigo. Também Estive nessa posição. Tanto orgulho. Nenhum de nós Desmentindo a Despedida. Tiro do bolso as passagens vencidas: Promessas de Navegação. O fim d'A Escalada das Montanhas de Mim Mesmo foi tardio? N'outros tempos seria o fim... Das Lágrimas... sim, eu iria Depressa e te diria: - Olha pra Mim, Pelo Amor do Amor! E você seria Meu Sol. Oh Colorful Thoughts of Existance. Dado o cenário atual, O que Seria de Nós? Mar de interrogações! Só uma certeza possuo. Se tiver que ser na Bala, Vai. Mi Vida Eres Tu.

Ass. Robert - Dezembro de 2015

        Hoje é terça-feira, quase seis meses haviam se passado desde o Sesc Santo Amaro. Entre datas havíamos conseguido ver o Reginaldo Lincoln na Sensorial Discos com a Musicatta e também o David Dafré junto a Raphael Ota na Monster Music. Ainda assim, poder reencontrar a banda é uma experiência distinta. Demorou pra ser chegou traduzindo o fim da espera. "Boa noite São Paulo, é um prazer passar o domingo nesse bairro histórico de outros tempos". Uma apresentação contida antes da banda partir para Eu sei onde você está, um dos destaques do disco de 2013, com o violino de Fernanda Kostchak surgindo solar na ponte da música. Depois Hélio e Reginaldo surgem misteriosos 'O inverno acabou'. Eles dizem que o público não entendeu, mas entenderão. A ansiedade a cada menção às novas composições é inegável. Mesmo de Longe coloca os holofotes no baixista enquanto David e Hélio se sentam no Sofá de Chekhov cenográfico. Seus instrumentos conversam em riso.
        O palco é tingido de vermelho quando Júlio Nhanha dá o tom no teclado para Quando eu cheguei na cidade, canção que espero esteja no próximo registro em estúdio. O arranjo estava diferente do mostrado em abril em Santo Amaro. Agora contando com o suporte vocal de Reginaldo. Meses atrás a banda anunciou que em breve O que a gente podia ser desapareceria do repertório. Me entristeci por ser uma favorita pessoal, essa nova canção tem potencial para um posto desses. Gosto como após o violino se anunciar num lamento solene vem o peso da guitarra de Dafré em sua elegância imóvel. Em seguida, a banda anuncia uma música muito antiga sem dizer o nome. É Miss Universe! Canção que eu não via há séculos. É bom ver como a banda tem cartas à disposição, como os vocais do guitarrista. Bem que Los Chicos de Ayer poderia aparecer um dia desses.
        Provando que desde os anos setenta os sonhos não envelhecem a banda apresenta sua versão para Clube da Esquina nº2; canção que faz parte da coletânea Mil Tom, lançada em 2015 comemorando os 50 anos de carreira de Milton Nascimento. As luzes se transformam e em meio ao vermelho e o azul a banda entoa Nessa Cidade. "É uma necessidade" Pode se perceber a energia aumentando no público com Kezo Nogueira na bateria, antes de todos os presentes gritarem intensamente os versos finais: "E não vem me dizer que é errado, você sabe o que aconteceu. Boa parte de mim vai embora, a sua parte que hoje sou eu". Hélio aproveita a aparição de Calil Barros para que conste nos autos o agradecimento da banda pela presença de alguém que está com a banda há pelo menos dez anos. Esses momentos são sempre bons por mostrarem o número de pessoas envolvidas para que o show como conhecemos aconteça, desde quem fica na lojinha até aqueles que agem nos bastidores.


Foto: Helen Moraes (Mesmo de longe)


        "Fazer show sóbrio é um perigo", a espontaneidade e o bom humor fica aparente quando a banda fala como estava sendo para eles depois de alterar as ordens das músicas depois de muito tempo. Para o deleite do público vem a parceria de Flanders e Nhanhá: A patinha da garça; Me lembrei de quando vi Hemisfério no Sesc Pinheiros no final do ano passado. O repertório da banda é tão rico que permite que passeiem por diversos períodos de seu cancioneiro sem decepcionar nem os que acompanham há anos tampouco os que, com certeza, estavam vivendo pela primeira vez a experiência da banda ao vivo. Se me detenho em cada momento ou frase visto entre as músicas é justamente por ser o diferencial que não é captado nos dvds, como o instante em que o tecladista assume o baixo, o baixista surge com o bandolim e a banda parece improvisar, não reconheço os versos "E tudo isso quer dizer que te amo" - música nova? versão? homenagem? - e isso não impede de apreciar. Vem Pelo amor do amor e depois Hélio filosofa "de que adianta o amor se a gente não tem a nós mesmos?" ele pede ao público que cante com ele Olha pra mim. Não que ele precisasse, todos os presentes estão entregues. David surge com o clarinete que sempre me lembra de A cruz e a espada do RPM. Parecia que o show estava acabando.
        Mas não estava! Tinham sido até então "apenas" dez músicas. Com ares do acústico do Lobão veio Meu Sol, canção de amor composta por Lincoln e Flanders. Uma das responsáveis por apresentar as novas cores do Vanguart a um novo público quando fez parte da trilha sonora da novela global Além do Horizonte alguns anos atrás. Logo após a banda executar Pra onde eu devo ir algumas vozes na plateia pedem por Robert. A banda brinca dizendo que infelizmente essa não vai rolar nunca, que autocrítica é importante. Entram então em consenso para tocar Depressa, que já estava riscada no repertório do domingo, prosseguem com ...Das lágrimas, as linhas do violino de Fernanda sempre abrilhantam as composições.
        Quente é o medo é outra das novas que veio com um arranjo distinto, dessa vez sem trompete e violino. Poder acompanhar as transformações das músicas em primeira mão é maravilhoso, afinal, pode se encontrar diversas entrevistas do Vanguart em que falam como buscam a melhor sonoridade em cada arranjo, não é por serem multi-instrumentistas que todas os arranjos tem que contar com todos os instrumentos. Essa coerência é louvável, nunca houve o interesse de se repetir em fórmulas. Depois de ver a violinista cantando The House of The Rising Sun num show em homenagem a Dylan, me tornei mais um do time que espera alguma participação vocal, afinal, como nem todas as músicas tem arranjo para violino poderia ser uma forma de mante-la sempre no palco... Divago. Ainda em Dylan, Hélio Flanders solta o Nobody feels any pain de Just Like a Woman mas é apenas um tease. Performam Estive, seguida por Se tiver que ser na bala, vai. Em meio a despedida a banda afirma que em breve virá o álbum novo, este é um dos últimos da turnê. Para encerrar vem as já esperadas Semáforo e Mi vida eres tu. "Só a gente pode nos libertar"... Quando pensei que ficaria longe dos shows do Vanguart por um tempo eles vem com a notícia de uma noite acústica no mesmo dia de meu aniversário. Vou me presentear com um pouco mais dessa banda que amo.

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