quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Nada Há de Novo sob o Sol

 "Toda estória já foi contada. Uma vez que tenha lido Anna Karenina, A Casa Soturna, O Som e a Fúria, O Sol é Para Todos e Uma Dobra no Tempo, você entende que não há razão para sequer escrever outro romance. Exceto que cada escritor oferece, caso se permita, alguma coisa que ninguém mais na história do tempo jamais ofereceu." Anna Quindlen em discurso no Mount Holyoke College em 1999
ISS003-E-6816, Aurora Vermelha - NASA, Setembro de 2001



Nada Há de Novo sob o Sol (2017)


Quando eu desaparecer
Quem vai procurar
Se la fora as marchas da noite
Invadem nuvens?
Choverá por onde houver rancor:
- Eu vou me afogar!
É tão tarde
É tão tarde que já é cedo

Já não há salvação
Só resta um pedido:
Enterrem meu coração
Na curva de um rio
Para criar raiz
Renegando o pó

Nada há de novo sob o sol
Nenhum mistério a cada despertar
Há uma alma sem farol
Nunca outra alma a pode abrigar
Cada partida é um adeus
Adeus, adeus, adeus

         No fim da noite do dia vinte e cinco de agosto, uma sexta-feira, com o violão nos braços comecei a exercitar um conjunto de acordes. Sem perceber, já adentrava a madrugada do dia seguinte. Era necessário terminar a canção. Questão de sentido: era a única maneira dela se tornar um retrato daquele instante. Expiação de si, por assim dizer. Ainda assim, a letra foi crescendo com o passar de meses.
         Carrego o conceito d'A marcha da noite desde o ensino médio e nunca consegui explaná-lo. Na letra de Felinos (Baseado em Fatos, 2009) ele já aparecia. Em maio de 2016, no curso Mentiras Libertárias de Fabrício Carpinejar alcancei alguns versos:
Um pedido de socorro é vão
Se o seu amor não está lá
Para acompanhar o fim
Do que vai chegar
Nada há de novo sob o sol
É só miséria a cada despertar
         Sem conseguir desenvolvê-los, ficaram arquivados na pasta de "ideias úteis".  Onde havia um outro trecho perdido : É quase sempre outono já é tarde/ Tão tarde que já é cedo feito tendo em mente a fotografia de árvores arujaenses. No mês seguinte daquele ano como tentasse descobrir o sabor da frase a usei numa conversa com Fabio Kulakauskas. E acabou definido como o título do retorno às atividades da banda. Bruno Oliveira também participou dessas definições por essa razão essa é, ainda que alheio a eles. Uma produção coletiva. Como eram algumas das composições de dez anos antes. Mesmo com tudo isso, foi apenas no momento em que descobri o livro Enterrem Meu Coração na Curva do Rio (Dee Brown, 1970), que era lido por minha amiga Estela, que fiquei instigado a reunir todas essas informações numa linha coesa. Melodicamente há uma série de referências de Neve de Papel de Vitor Ramil (Longes, 2004) à composições próprias tal Dádiva (Belaventura, 2011). 
        Nada há de novo sob o sol foi retirado do 1:9 do Eclesiastes e me pareceu o título lógico para a temática das novas composições, iniciadas em 2016, pois elas vieram depois de anos distante da atividade criativa de forma ativa. A compilação de canções sob este título engloba um pouco de tudo que fora composto desde 2007. Há poemas musicados, composições de Bruno Oliveira, uma canção de Fábio Kulakauskas que eu terminei. Faixas em que uso a craviola de doze cordas. De um modo, é um reflexo do primeiro álbum. Falsa Modéstia. Só acaba uma vez, tudo o que ocorre antes disso é apenas progresso.

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