quinta-feira, 12 de outubro de 2017

O Tempo Passado

"O presente puro é um inatingível avançar do passado devorando o futuro. Em verdade, toda sensação já é memória." Henri Bergson




O Tempo Passado (2010)
O tempo passa tão passado
Reprisado, antecipado.
Passa quando vejo que passa
Para, quando vejo que passa
E continua a passar
E continua a passar, parar.

O tempo tempera a ternura
E a temperatura
E perpetua por todo o passado
Presente e futuro

Passado o tempo tudo fica
Memorizado, marcado ou manchado
Importado? Importante ou não
O tempo passou e mais uma vez
Pausado passou que nem vi

          Se a foto ilustrando esse post não é a de minha turma pré-escolar tomo as palavras da canção de Chico Buarque e Ruy Guerra explicando que há distância entre intenção e gesto. "Mas Thales", diria meu editor, "você não pode começar o texto falando de um compositor famoso, esse ato quebrará a atenção da leitora ou leitor, que ficarão propensos a buscar o trecho em itálico no Google". Quem leu até este momento concorda com ele? Ou a ideia da pré-escola ecoou mais forte? Aos leitores que chegarem aqui, confiarei o texto aos seus cuidados:
           Anderson Gonçalves estava presente comigo pelos idos de minha segunda infância. (será que ele se recorda de interpretar Leiga em nossas formações-mandala dos recreios?) Voltamos a ter contato regular no Ensino Médio e entre as coisas que não perdemos pelo caminho estão alguns poemas que trocávamos por e-mail nos anos seguintes. 
          O Tempo Passado é uma das letras escritas por Anderson em meados de 2010. Gosto das sensações de tempo citadas e da personificação de um Tempo "mais dócil" comparado a algo que eu escrevia. Aprecio também a aproximação de "tempera, ternura e temperatura" se revolvendo numa dança silábica. Assim como viria a fazer com outra letra de Anderson (Falta) procurei imprimir mais cor na melodia, de modo não soasse monótona e hermeticamente reflexiva.
          Meu irmão Fernando achou essa foto há alguns meses atrás com minha avó. Quando ele me enviou pensei "bem, creio usarei no blog". Como ela viria a encorajar dias atrás "vergonha o quê, era você ué kkk". O traje de toureiro me lembra o livro O Touro Ferdinando, de Munro Leaf com ilustrações de Robert Lawson. O brasileiro Carlos Saldanha, lançará sua adaptação para os cinemas em dezembro desse ano. Oitenta e um anos depois da primeira publicação do livro. O tempo passa mas sua mensagem perpetua: antes o aroma das flores que o sangue derramado sobre a natureza morta. Que a paz seja nosso espetáculo cotidiano.
         

Nenhum comentário:

Postar um comentário