sábado, 16 de junho de 2018

Sobre um Dia de Junho

"Recordemos, ao menos por um instante, o que merece ser lembrado, ficamos esperando que cada um dos lembradores não realize o projeto de buscar uma rua, uma casa, uma árvore guardada na memória, pois sabemos que não irão encontrá-las nessa cidade onde os preconceitos da funcionalidade demoliram paisagens de uma vida inteira. Ao darmos palavras as vozes que foram silenciadas, uma voz fica no espaço, gritando, aqui nada podem tocar e nada podem destruir porque só restam memórias, lembranças dos últimos dias e o último dia é hoje." - Umbelina Ferreira Barbosa, Arujá: cidade natureza, 2004 João G. Machado
Página de caderno de 2008


         A frase que abre este texto fora pensada para abrir Milonga de Partida e, por descuido, acabou de fora. Sobre um dia de junho era uma das poucas composições que só entraria no blog dentro deste específico mês. Mais por uma questão de princípio que por outra coisa. Quando a escrevi, a intenção era a de tentar trabalhar um lado narrativo para as composições da banda Falsa Modéstia. Você cresce ouvindo narrativas e se pega pensando quais as possibilidades de fazê-lo. Para este caso não foi tão simples quanto imaginado, por mais que a cena em questão seja banal. Imagine a cena: duas pessoas numa praça, acima delas as arvores, acima dela, a lua. O junho no título vinha apenas para trabalhar a atmosfera entre algum ponto entre o outono e o inverno. 

         Sua melodia tem como ponto de partida a canção João e Maria de Chico Buarque, canção que eu ouvia muito tanto pelo álbum Seu Francisco de Oswaldo Montenegro quanto por influência dos devedês do mestre Robson Miguel. Suas outras duas partes não tem uma origem tão clara, eram, sim, parte da intenção de criar uma dinâmica diferente para a música, quebrando a expectativa de um possível ouvinte. Aconteceu que, enquanto gravava, o celular tocou e, por descuido, não estava no silencioso. Decidi usar a gravação antiga, pois, esse toque de meu antigo Nokia 5200 era o som do monstro de fumaça de Lost, diretamente do trigésimo quinto episódio da série O Salmo 23. Ainda que sem saber realizar harmonias vocais havia sempre uma vontade de ter outras vozes a cantar junto e assim dobrava minha própria voz na terceira parte da canção. Após o final, um interlúdio instrumental. Estava aí, Sobre um dia de junho.

Sobre um dia de junho (2008)
Letra e música: Thales Salgado

A luz da lua passando entre as arvores
Deixava mais inconfundível
O brilho de teu olhar,
Que havia sido até então
Observado de longe
O frio estava com medo de se aproximar
Dançava como uma brisa leve
Que fazia espalhar
Ainda mais o teu perfume

Pela noite que era bem-vinda
Tanto quanto teus cabelos
Escorrendo como água em minhas mãos
Fica a lembrança que me paralisa
Do momento em que a certeza
Foi criada em um mar de palavras

E em meio a nossas conversas
Nos calamos juntos
Fazendo daquele silêncio
O mais bonito que tivemos
Com as dúvidas sanadas
E o desejo saciado
Sem arrependimento
Sem vontade de partir

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