domingo, 21 de junho de 2020

Smallville, o Retorno (...e um soneto)

"Govinda disse, 'Nós já aprendemos tanto, Sidarta. Ainda há tanto a aprender. Nós não prosseguimos em círculos, nós estamos indo para cima. O caminho é uma espiral; e nós já galgamos vários passos." Sidarta, de Hermann Hesse. Parte I, capítulo, Com os Samanas.
Versão editada da capa do "mangá" feito no René, em 2006

INTRODUÇÃO

       Nas últimas semanas, tenho revisto as temporadas de Smallville, atualmente, elas estão disponíveis, atualmente, pelo Prime Video da Amazon (não, este não é um artigo pago, como aprendi com a podosfera, é sempre bom lembrar).
Há diversas instâncias em que menciono a série até hoje, seja por ela ter sido um forte motivador para que eu conhecesse bandas como Depeche Mode e Interpol – e outras, como Staind que, apesar de eu nunca ter adentrado na discografia, figurava em meu “repertório solo” com Outside – ou por muito de meu entendimento da mitologia do Superman ter partido da mitologia instituída pela série.
      Apesar de isso não tão claro atualmente, o meu “eu” do ensino fundamental II, inclusive, tinha o hábito de escolher tênis, chuteiras, ou mesmo jaquetas vermelhas para contrastar com o azul do uniforme escolar. Tamanha era a inspiração em Clark Kent.

       Havia, claro, a reverência ao cânone dos filmes de Richard Donner, que assistíamos em casa de vez em quando. Com o icônico Christopher Reeve a, também, icônica primeira dublagem com André Filho. Mas, “o grosso” ficou com Smallville.
       De modo que, tenho a vaga lembrança, parecia uma heresia que a Warner se decidisse por Brandon Routh para seu Superman – O Retorno, quando Tom Welling desempenhava o papel de um jovem e inexperiente Clark tão bem. Tivesse apostado nesse “transmídia” naquele, hoje, longínquo 2006, talvez, a DC Comics/Warner tivessem inaugurado no cinema. algo que, atualmente, com seus erros e acertos, tem ocorrido com maior frequência, notadamente, no Universo Marvel. 

JÁ ERA TEMPO

     O sexto evento anual do Universo televisivo de Arrow, Crise nas Infinitas Terras, realizado entre o final de 2019 e o início de 2020, cruzou episódios das séries Arrow, The Flash, Supergirl, Legends of Tomorrow e Batwoman, além de participações especiais de Black Lighting e, claro, os próprios Tom Welling e Brandon Routh dando vida à outras versões do Último Filho de Krypton. Dentre as participações, outra digna de nota foi o encontro do Flash da série, Grant Gustin, com o Flash do Universo Estendido DC, Ezra Miller, deixando claro, o óbvio, de que há espaço para diversas encarnações concomitantes interagirem sem a confusão o público.
      Não que desbravar fosse o interesse da companhia, é bom ressaltar, com um orçamento megalomaníaco de US$ 270 milhões, o filme com Brandon Routh, faturou cerca de US$ 392 milhões para os cofres da Warner Bros. Pictures que, após o “divisor de águas” Cavaleiro das Trevas, cancelou a sequência do filme e decidiu optar pelo tom “sombrio e realista” – que dominou as produções da companhia até que surgisse a ensolarada trinca “Mulher Maravilha, Aquaman & Shazam” – encabeçados pela produção de Christopher Nolan e do “visionário” Zack Snyder: O Homem de Aço, de 2013.

O SONETO

Soneto de Dissociação (19/06/2020)

Uma confissão atrasada, te faço
Pois sei que, há tempos, eu já não te ouvia
E, mesmo eu ouvisse, você partiria
Restando, a mim, só este descompasso

Meu erro, querida, eu sinto que foi crasso
Ao vê-la, de canto, aquele dia
Não te aninhei, tal uma cotovia
Resguardando, do sofrer, estilhaço

Eu vi outrem, selando teu frio lábio
Tua tez, a mim, lembrou uma boneca
Um enigma, escondido, no alfarrábio

Riscado em ouro, num tesouro asteca
Não fingirei, ser fácil, feito sábio
Saudades, de ti, vou sentir: caneca.

        Lembro quando assisti à Returns em 2006, contava dezesseis anos, fui com a família ao Cinemark do Shopping D e, após a sessão, comprei uma caneca que, na última semana, se quebrou. Esse evento, inspirou a que eu escrevesse o soneto acima. Um exercício descompromissado, afinal, é apenas uma caneca. Mas, diferente do Combo de Vingadores Ultimato, por exemplo, ela teve diversas utilizações durante 14 anos, “ela também se mudou” de Arujá para Guarulhos, portanto, vale a lembrança.
      “Pode parecer bobagem, um impulso infantil” Pode até soar apenas nostálgico e, talvez, seja, mas, o fato de ter um objeto que muda de função de diversas maneiras. O evento também me levou a conhecer o trabalho da “Restauração Prates”, especializada na restauração de obras de arte e objetos de valor sentimental. Infelizmente, por novo descuido meu, os restos mortais da caneca foram para o lixo... Se você, leitor ou leitora, desse texto também acompanhar Once Upon a Time, sabe o quanto uma xícara com história, mesmo que esteja lascada, pode ser poderosa. (Sim, o meu cânone é OUaT, A Bela e a Fera veio antes mas... perdeu a vez).

"certas vezes, a melhor xícara de chá, está lascada"

O MANGÁ

       Passada esta questão que motivou o texto, me veio a lembrança outro “acontecimento” daquele ano de 2006. Um dos pontos altos da aula de artes da pedagoga Marize Manopelli em meu segundo ano do ensino médio, foi um trabalho em que realizaríamos uma história em quadrinhos, é, inclusive, uma edição de sua capa que ilustra esse post. "o mangá" estará ao fim do post, na íntegra. 

     Achei curioso nesta história é que, em determinado momento, eu mencionasse “o segredo da ilha de Lost”, uma vez que, de acordo com os registros do jornal O Estado de São Paulo, a segunda temporada da série estreara pelo canal AXN no dia 06 de março. Sabendo que o primeiro episódio que assisti da série foi em uma reprise de domingo, a primeira vez em que assisti a Lost, foi no dia 12/03/2006. De acordo com uma notícia veiculada no Omelete no dia 30 desse mesmo mês, a conclusão da quinta temporada de Smallville estrearia nos EUA no final de maio ou início de junho, chegando às telas da Warner Channel por volta do início de julho. 
       De modo que, era o momento perfeito para integrar uma nova série ao cronograma. Quem poderia dizer que, apenas três meses depois de começar a assistir, ela já fizesse parte de meu imaginário a ponto de receber uma menção em um crossover, constituído, principalmente, por personagens do universo de Smallville e The King of Fighters?

Nem o violão que ganhei de meu pai passou incólume ao Homem de Aço

RAMIFICAÇÕES

      Por último, mas, não menos importante, algo que notei na história é que das sete personagens que aparecem, apenas uma é feminina. Em uma participação monossilábica da mãe biológica de Kal-El, Lara-El – inspirada claramente na Saori presente na capa da edição nº 37, de julho de 2003, da primeira edição do mangá Cavaleiros do Zodíaco, publicado pela editora Conrad.
      Isso me chamou ainda mais atenção, devido ao fato de que, em revisão, Smallville é uma série com diversas personagens femininas marcantes e, ainda que toda a ação do seriado seja conduzida com o intuito de descobrirmos como Clark Kent se tornou o Superman, cada uma delas tem seus próprios arcos definidos e que, nem sempre, tem relação com o kryptoniano. Pensando no texto durante a terceira semana de junho, constar isso ficou, para mim, ainda mais gritante, ao surgir em minha timeline que 21 de junho é o aniversário da atriz Erica Durance, que interpretou Lois Lane durante sete anos e participou do supramencionado evento Crise nas Infinitas Terras do canal CW.

      A lembrança que eu tinha de meus quinze anos, era de não ter recebido bem a chegada da personagem à série. Provavelmente, por significar “a saída” da personagem Chloe, que sempre fora uma favorita. Estando próximo ao fim da sexta temporada, vejo facilmente o quanto desta opinião mudou: A personagem trouxe uma série de novas dinâmicas para o seriado e, mesmo a quarta temporada, com foco na busca pelos artefatos guiada pela “reencarnação” da bruxa Margaret Isobel Thoreaux, ‘induzida’ por Genevieve Teague, a única vilã da série e que, curiosamente, nunca conheceu Clark, se mostrou mais divertida do que eu me lembrava. Algumas opiniões, não sobrevivem à regra dos quinze anos e, que bom.
        
        Ainda pensando em Lois Lane e sua representação, apesar do fan-service, na série a personagem recebe muito mais a fazer que Amy Adams, a Lois atualmente nos cinemas – embora, séries, por definição, permitirem um desenvolvimento mais incisivo a longo prazo. Encontrei, inclusive, um artigo de Laura Wilson, da Universidade de Nova Jérsei, com o título “How Progressive Of You: The Women of Smallville” (Que Progressivo de Sua Parte: As Mulheres de Pequenópolis, em tradução livre) que pode ser lido na íntegra aqui Nele, a autora faz uma análise da presença feminina dentro dos 217 episódios da série e os diferentes arquétipos, convenções e evoluções passam seis personagens femininas principais: Chloe Sullivan (Allison Mack), Kara Zor-El Kent  (Laura Vandervoort), Lana Lang  (Kristin Kreuk), Lois Lane  (Erica Durance), Martha Kent (Annette O’Toole), e Tess Mercer (Cassidy Freeman). Traduzi um trecho em que ela descreve a presença da Lois de Erica na série:
“Lois Lane é o segundo interesse amoro de Clark e uma prima de Chloe, ela é introduzida no início da quarta temporada, após a Chloe se declarada morta. Ela tem, inicialmente, uma relação algo que mordaz com Clark, mas eles eventualmente se tornam colegas de trabalho e legítimos amigos, antes de evoluírem para interesses amorosos na oitava temporada.Lois é a destemida filha de um general militar, o que significa que ela, diferente de Chloe e da Lana das temporadas iniciais, tem um legitimo treinamento para auto-defesa desde o início. De diversas formas, Lois é o oposto de Lana, ainda que mantendo, basicamente, o mesmo papel na narrativa.Frequentemente, Lois acaba necessitando se resgatada por Clark. Essas abduções são usualmente não causadas pela obsessão de um vilão com ela ou suas conexões com Clark e outros heróis, no entanto, em vez disso, é a própria curiosidade de Lois e o desejo de investigar a fundo situações perigosas é o que a leva a terminar como uma donzela em perigo. Muitas vezes ela revida, às vezes até salvando a si mesma com apenas algum apoio menor e não exibido de Clark. As únicas instâncias em que ela está completamente indefesa é quando ela está seriamente ferida, inconsciente ou contra um oponente que, de alguma forma, tem superpoderes”.

      Considerando as leituras possíveis de serem feitas hoje, o "eu" que está a ver a série nem pode ser considerado a mesma pessoa que a viu a primeira vez, a impressão de que é uma série, muitas vezes, distinta. É bem diferente, inclusive, acompanhar uma série semanalmente e poder visualizar, on demand, todas as resoluções de tramas. Finalizo então, tomando emprestado o título do quinto álbum do rapper Gabriel, O Pensador, “seja você mesmo, mas não seja sempre o mesmo”.

DEVE SER O QUE CHAMAM TÚNEL DO TEMPO:









Ter o registro da avaliação ancorou o trabalho em 2006

Adaptação manuscrita do aviso dos mangás da Conrad/JBC
Obviamente, a história, apesar de colorida,
Foi concebida da esquerda para a direita

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