quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Andando com meus pés

"Toda arte é autobiografica. A pérola é a autobiografia da ostra. Federico Fellini" - The Atlantic, December 1965.

                                 



Andando com meus pés (2020)
Letra: Fabíola Passos Almeida
Música: Thales Salgado

Andando com meus pés sigo
No único ritmo possível
O Meu

Andando com meus pés sigo
Na única estrada que há
A minha

Andando com meus pés sigo
No único sentido possível 
O meu desejo

Andando com meus pés sigo
Na única estética possível
Minha boa forma

Andando com meus pés sigo
E percebo quão estranha foi
A ideia (que por muito alimentei)
De que só seria possível caminhar
Com outros pés

     Recebi estes versos no dia 29/10. A autora comentou estar escrevendo bastante e que eles deviam estar prontos cerca de duas semanas antes (imagino que por volta do dia 15). Musiquei no dia de finados. Minha intenção era fazê-la no ukelele. Inspirado por uma versão de Um Conto no Jardim que havia realizado no instrumento.  Entretanto, não conseguia me adaptar ao pequeno braço e tornei a repetir os três acordes (Dm C9 G) na craviola mesmo. Trocando o tom, esta progressão me lembra Wicked Game, de Chris Isaak, uma composição que sempre esteve em meu repertório enquanto na banda Falsa Modéstia.
      Parte do que criou um conflito quanto a como inserir esta composição no blog, foi o fato de ela ter sido "inesperada". Meu pensamento era que, finalizada A Equação do Hiato, meu foco seria direcionado à gravação de vídeos para composições de anos anteriores. O áudio presente nesta postagem é do momento seguinte à composição. Como pode ser visto no manuscrito, minhas interferências estão em vermelho e não afetam por demais o conteúdo do texto, mesmo na ultima estrofe, um pronome e um substantivo.
  Me identifiquei muito com os versos, principalmente com a conclusão que comenta quão estranha é a ideia de que só seria possível caminhar com outros pés. Ela reflete muito a própria existência das postagens no blog. Em 2020, por exemplo, apenas duas postagens não foram acerca composições autorais. Isso, por um lado, é desafiador, afinal, é preciso criar imagens, procurar frases, realizar gravações e o que mais for preciso para complementar o texto. Por outro lado, a probabilidade de que menos de dez pessoas cheguem a ler estas palavras também é grande, afinal: em um mundo em que artistas podem ganhar o Grammy com álbuns compostos e produzidos em seus quartos, qual o sentido de postar uma devo apenas com violão e voz? E mais: detalhar sua criação? Pode alguém chegar a esta página por coincidência? Talvez.  Certo é que se eu falasse de quaisquer álbuns de artistas renomados por aqui, teria um número maior de visualizações mas... o que isso iria dizer?

Nenhum comentário:

Postar um comentário