segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Ikiryou EP

“Esse tipo de fantasma é chamado de ikiryou, ou seja, “espírito vivente”. Não sei quanto aos demais países, mas no Japão há muitos exemplos disso na literatura. A história de Genji está povoada de Ikiryou. Nesse período Heian (séculos IX a XII d.C), ou seja, no universo espiritual do povo desse período, as pessoas eram capazes de se transformar em espírito ainda em vida, viajar pelo espaço e realizar seus desejos.” Kafka A beira-mar de Haruki Murakami, capítulo 23, p. 276, tradução de Leiko Gotoda 
Ilustração: Thales Salgado

     Deparei-me com o conceito de “espírito vivente” pela primeira vez quando lia Kafka à beira-mar, de Haruki Murakami e neste ano em que o distanciamento social é essencial ele me veio a mente. A metamorfose em espírito para pairar, intangível, sobre os pensamentos de outrem e retornar a mim pintado por outras vozes. Estas composições em voz e violão sempre estiveram sob o título Ikiryou EP. 
     O E.P. - Extended Play - no título surgiu em vontade de imitar os ídolos (como o Abbey Road EP dos Red Hot Chili Peppers) e sentindo, à época, que não passaria de cinco ou seis faixas. No decorrer de sete meses, o conceito foi fechado com as onze faixas a seguir, com links para cada uma delas: 

1. Beleza Parasita (letra de Fabíola Passos Almeida) 
2. Tudo Outro Agora (letra de Anderson Bezerra) 
3. Silêncio (sobre poema de Kariny Camargo) 
5. Ofício das Horas (sobre poema de Renato Bicudo) 
6. Concreto-Confronto (montada com um conto de Daiany Pontes)*
7. Identidade (letra de Fabíola Passos Almeida) 
8. Muitas em Mim (letra de Fabíola Passos Almeida) 

     No início, trabalharia apenas com textos com que tive contato de 2019 para cá, entretanto, quando me deparei com o poema de Kariny de 2011, não resisti musicá-lo. É sempre um exercício musicar versos de pessoas que conheço, independente do nível de intimidade. Mesmo se conheço os gostos musicais das pessoas com quem estou fazendo a parceria, não tenho como emulá-lo. A canção sempre se imporá como bem entende e caberá a mim, tentar traduzir uma parte na outra parte, como diria o poeta. 
  O pensamento para a capa era de mostrar uma alma pousando no corpo de um personagem deitado, como acabasse de retornar. No fim das contas, ainda que haja, no primeiro plano, uma figura deitada, a figura ao fundo, mesmo antropomórfica, ficou feia e em nada refletia o que eu tinha em mente (já subconscientemente, eu já não sei).

*As faixas marcadas contém ilustrações da artista Isabella Proença que emprestou sua sensibilidade para transpor ideias das canções em imagens. Por vezes, extrapolando o conceito inicial, todas elas são obras que merecem ser vistas mesmo sem a letra ou música.

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