segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Um Outro Conto no Jardim

“Então, pratique escrita livre. Escreva sem pensar. Tenho certeza haverá algumas coisas com as quais se surpreenderá, juntamente com algumas bobagens. Talvez você escreva algo que o lembrará de uma música que você já ouviu antes, mas será como você tivesse descoberto uma nova forma para dizer. Encontrar a sua própria voz é algo em que nos aprofundaremos depois, por ora, preste atenção em como você se sente ao cantar as palavras que você escreveu. Caso você se sinta levemente desconfortável, talvez até mesmo um tanto envergonhado, você está no caminho certo. Esse é o dilema em que todo mundo se encontra. Há apenas algumas coisas que qualquer um pode dizer. Então, em algum momento, seu foco terá que mudar de estar preocupado acerca de “temas” e “significados” e “sobre o que é uma música”. – How to Write One Song (Como Compor Uma Música) p.29/30 – Jeff Tweedy, Dutton Books, 1ª edição (13 outubro 2020), tradução livre.

Arte por Isabella Proença

    Enquanto reouvia a versão que Fabio Kulakauskas e Claudio Gregório trabalharam da canção, comecei a ouvir em minha mente o refrão de Sky is Over de Serj Tankian: “Even though we can’t afford/The sky is over/I don’t want to see you go/The Sky is over” ainda seja um artista que acompanho desde os tempos do System of a Down, nunca havia feito a associação entre a harmonia. Estavam ali os acordes “Gm Eb D”. Mais curioso foi pensar que o álbum de estreia solo de Serj se deu na mesma semana em que a banda Falsa Modéstia se apresentou na E.E. Esli Garcia Diniz (já falei mais disso em Interescolar). Ainda não existam registros físicos que embasem isto, não há inspiração direta. Até fui atrás do primeiro texto em que falei sobre Um Conto no Jardim no blog, há 5 anos, 3 meses e 28 dias, não há menção a esta canção.


   Não há menção nem mesmo à Juvenília, da RPM, a composição que me colocou interessado em trabalhar com o Sol Menor muito antes de eu pensar em compor a melodia para Um Caminho para o Céu, que, não por coincidência, também começou com ele. Não posso sequer dizer que foi proposital: foi a décima primeira postagem no geral e apenas a quinta em que eu falava de uma composição autoral. Uma pergunta pulsava naquele período da mesma forma que agora: a quem se destinam estas palavras? São como uma mensagem na garrafa virtual? É fácil entender o que leva alguém a visitar um blog do Humberto Gessinger, ou mesmo um livro do Jeff Tweedy, só para ficar em um exemplo nesta própria postagem, mas, quem chega até aqui, me conhece? Mais: se importa em saber os meandros de algumas composições independentes? Afinal, são coisas diferentes, há quem goste de consumir canções em playlists aleatórias, quem ligue apenas para a música, ou só para a letra, mas nem todas as pessoas se importam em saber, como canta Lenine: De onde vem a canção?

    Se há garantias de que este será o texto a explicar? eu poderia resumir como: alguns versos já com melodia vieram a minha mente, decidi expandi-los em um refrão e criar uma narrativa que desembocasse ali. Simples assim. O que é diferente do que eu mesmo disse aqui, em que tentei criar uma ordem cronológica de acontecimentos com um flashback de anos antes do ano em que os versos falam. Mas eu não sou o eu-lírico. Quando a compositora Paula Lima cantou estes versos pela primeira vez, em que ela pensava? Qual é a relação entre o material e o intérprete? Não faço ideia. Talvez o poema Autopsicografia contenha a resposta. Alguma.

    Em outubro, quando comentei com a multidisciplinar Isabella Proença sobre uma arte para esta composição, estava influenciado pela série da Marvel What If...? e em como O Vigia de Jeffrey Wright (dublado no Brasil pelo eterno Sesshomaru: Silvio Giraldi) falava no “prisma de possibilidades sem fim” e mencionei isso. No fim das contas, consigo enxergo a obra dela com uma potência particular. Quem é a personagem? Ela se inspirou em alguém ou se baseou em uma base de imagens para referência? Eu não sei. O cinza que a envolve é resultado do mesmo processo pelo qual a personagem na ilustração para Concreto-confronto viveu ou é um reflexo do verso que diz que o tempo parou? (Ou a personagem deparou-se com o escuto da Medusa?) Pode ser tudo isso e pode também não ser. A visão da artista, descolada do histórico dos versos, é capaz de transmitir uma série de outras ideias que não necessariamente estavam nos versos. Como diz a instrutora Mayu Ooba: Cada “arte” é uma “resposta” que ocorreu ao artista. A resposta que Ella encontrou é elegante.

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