sábado, 4 de novembro de 2017

Da Escolha

"In a way this dream is over, blown away our four leaf clover"
Me and my big ideas, Tears for Fears
"Flor vermelha que encanta"




Da Escolha (2017)

Quem sabe o que nos falta
Seja paciência?
Seu último amor 
Te fez trancar as portas, todas,
Perder chaves
Quem sabe semeou já
A correspondência?
Mas leva tempo para
Os galhos alcançarem, enfim,
As janelas

Para a luz entrar
Nos fazer dançar
Dispersar essa neblina
Que nos paralisa

Quem sabe nem cheguemos
À mesma frequência
Caminho terno
O gelo fino de minhas histórias
Declaradas
Quem sabe tu repliques
Doces reticências
Aceito consciente
A consequência de seguir
Com minha escolha

Para a luz entrar
Me fazer dançar
Dispersar essa neblina
Que me paralisa

Hoje, "não passa disso"
Tudo tem seu momento
Uma amizade é
Alicerce bem melhor
Que um desejo cego e mudo

Todas as canções escritas e compostas por Thales Salgado, exceto onde notado:

  1. Como Pode Ser Verdade? (Letra e música de Bruno Oliveira)
  2. Vita Brevis
  3. Tudo Depende de Conforme For
  4. Depois de Crescer (Letra e música de Bruno Oliveira)
  5. Viver (Música para poema de Drummond)
  6. II de Hilda Hilst (Música para poema de Hilda Hilst)
  7. Mar de Mim (Letra e música Fabio Kulakauskas e Thales Salgado)
  8. O Princípio da Incerteza
  9. Nada Há de Novo Sob o Sol
  10. Da Espera (Música para poema de Thaís Soares)
  11. Da Escolha
          Tudo já foi dito uma vez, mas como ninguém escuta é preciso dizer de novo. Não conheço o trabalho do escritor francês André Gide, no entanto, encontrei essa frase atribuída a ele e ela faz sentido. Quando escrevi a letra de Falsa Modéstia aos dezoito anos o verso o mundo todo em guerra e eu a falar de amor era mais uma conclusão de uma pessoa sem muito escopo político para articular em relação ao mundo. Ainda que influenciado por artistas como Humberto Gessinger e Renato Russo transcrever o zeitgeist nunca esteve em minhas qualidades como letrista amador. Boa parte das composições tratam de sentimentos, quase sempre em esfera pessoal. Como uma fotografia sem cores de marcos e acontecimentos que, muitas das vezes, só dizem respeito aos envolvidos.
           Da Escolha segue essa linha. Ela surgiu enquanto estava a caminho do trabalho. Letra e música vieram juntas no dia dezessete de outubro. A primeira influência que posso traçar é da canção Labirinto, presente em seu 11º álbum Campos Neutrais, lançado dia 13 de outubro. Enquanto tentava aprender a letra, outros pensamentos consumiam minha atenção. É curioso notar a menção à "Paciência" uma das canções de Lenine logo nos primeiros versos. Não por ser do cantautor pernambucano, e sim, pela parceria com Dudu Falcão ser uma das que menos me impressiona em seu cancioneiro. 
          A letra apresenta a fantasia de um eu-lírico. A razão do "refrão" não vir antes é justamente pela condução precisar passar pela "escolha". Essa ilusão do eu-lírico o faz colocar num primeiro momento "nos fazer dançar" e "nos paralisa" quando, em verdade, tudo está ocorrendo apenas em sua mente. É apenas ao final que ele individualiza a oração: "me fazer dançar", "me paralisa". A proximidade da composição permite traçar outras referências mais facilmente: a ideia de caminhar no gelo partiu de uma das cenas d'O Cavaleiro das Trevas Ressurge de Christopher Nolan. A melodia do pré-refrão conserva algo de Mesmo quando a boca cala de Vinicius Calderoni (do 5 à Seco) e o acorde de introdução me lembrou de uma composição minha de 2008 que ainda não falei aqui. Sobre um dia de junho. No momento em que harmonizava ao violão me dei conta disso, porém, como as linhas vocais são muito diferentes não julguei problema. 

***

         Faltando cinquenta e sete dias para o fim de 2017 é provável não hajam novas composições a se enquadrar no conceito "Nada Há de Novo Sob o Sol". De fato, tenho intenção de musicar a Canção de Outono de Paul Verlaine (na tradução de Onestaldo de Pennafort) mas não sentei com o violão nesta intenção até o momento. Seguindo o interesse pela lírica francesa em junho último Kariny traduziu a letra de Vivre Autrement do cantautor Arnaud Fleurent-Didier, entretanto, sigo indeciso com a forma de abordagem que devo seguir quanto a conservação do esquema de rimas da versão original, então, a menos eu não viva para contar a história, há intenções de seguir com novas composições em 2018.

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