quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Fim


"THE MAN IN BLACK: Still trying to prove me wrong, aren't you?
JACOB: You are wrong.
THE MAN IN BLACK: Am I? They come. They fight. They destroy. They corrupt. It always ends the same.
JACOB: It only ends once. Anything that happens before that is just progress." - The Incident, Lost


Recorte do Jardim das Delícias Terrenas de Hieronymus Bosch



Fim (2011)

Somos abismos fitando o céu
Se fome, a guerra, a morte ou a peste nem sei.
Escapo ao naufrágio de vis ilusões
E acabo refém de uma tempestade
Num jardim de terrenas delicias
Defloram, corrompem, sempre acaba assim,
Esperadas condutas humanas



Olhar de espanto ante o fim dos milagres
Inquietas sombras que vem outra vez
Nas luzes desertas dos sonhos sem cor
O poente treme os passos que não tem por flutuar
E aos poucos vai se notando
Nem mesmo o corvo a dizer "Nunca mais"
Não se nota quando o túnel engole o trem



         Durante algum tempo essa composição não teve nome. Diferente de outras letras ruminadas por um longo período essa é um amálgama de referências. Não por coincidência, a letra se chamaria "referência". No fim das contas as nações unidas estão sempre prontas para a desunião a palavra intitularia uma composição posterior feita sobre um poema de Kariny Cristina. Se alguém mais inteligente disse que o segredo da criatividade era esconder as fontes, o que se pode dizer quando esquecemos as fontes? Certamente um pouco de meus gostos vazaram na letra. Lost e Dom Casmurro são os exemplos mais fáceis de descrever. 
         Outras menções, como o corvo de Poe devem ter surgido por influência da faculdade de Letras. Se há um verso que tenho certeza existia antes da letra é "O poente treme os passos que não tem por flutuar" é aquela ideia que você não quer largar de maneira nenhuma. Olhando para a letra hoje, me pergunto se conseguiria fazer algo assim ou se quero. Segue a busca por uma canção alegre, e, no entanto, é necessário colocar tudo o que foi escrito antes em perspectiva. Inclusive as elucubrações sobre a finitude.
         Nesse sentido, quando Jean Reis me mandou sua composição ele instruiu que eu escrevesse algo que fosse oposto ao que eu sentisse ao ouvir a melodia e é por conta disso a escolha temática.

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